segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

O irmão

     Como já dizia o bom e velho Raul Seixas: "Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo." Seguindo o clássico musical, a Laura mudou de opinião sobre um assunto que até então era indiscutível pra ela: a hipótese de ela ter um irmão ou irmã.
Colegas  e amigos dela que ganharam irmãos e irmãs recentemente foram responsáveis pela mudança no pensamento da crespa. O tradicional "Não quero falar disso" deu lugar a diálogos longos e empolgados sobre mais um membro na família.

Isso aconteceu por etapas. Há alguns meses, os papos eram assim:
- Mãe, já decidi: quero um irmão ou irmã.
- Ah é?? 
- É. Mas agora não. Só quando eu crescer mais.

Agora mais por novembro, com os ensaios da festa de final de ano da escola, a conversa tomou m rumo mais enfático. Com uma certa indignação, ela comentou:
- Sabe o que eu vou ser no teatro da escola?
- O que?
Revirando os olhos, contrariada
-  Só um anjo!
- E qual é o problema de ser um anjo? Os anjos são importantes!
- Não são nada! Anjo não tem serventia nenhuma! Eu queria ser a Maria!

Seria porque a Maria ocupa papel importante no presépio? Obvio. Segue a conversa:

- E sabe quem vai ser a Maria, mãe?
- Quem?
- A Isadora! Porque ela tem o Davi, o irmãozinho dela que vai ser o Jesus. Aí ela vai ficar perto dele pra ele não chorar durante a apresentação. Eu queria ter um irmão pra ser a Maria ano que vem na apresentação!!

     Depois dessa, a vontade do irmão aumentou consideravelmente:
- Mãe, quero um irmão. E não vamos esperar até eu crescer. Pode ser agora mesmo.
- Mas e se vier uma irmã?
- Aí tudo bem. Eu ajudo a cuidar.
- Então tu tens que falar com o teu pai sobre isso.

     E ela foi. Aí veio o Bruno me contar que a Laura pediu um irmão pra ele.
- Mas filha, a mãe viaja sempre pra Porto Alegre. Como nós vamos fazer com um nenê pequeno se ela tá sempre indo pra lá?
- Deixa ela ir, pai! A gente cuida dele!!
- Mas ela tem que dar mamá pra ele...então quem sabe a gente espera ela terminar a especialização dela pra tu teres um irmão?
- Tá. Mas tem que ser logo!


     Diariamente ela toca no assunto. "Quando meu irmão nascer...", "Meu irmão isso, meu irmão aquilo...". Esses dias, nós duas estávamos tomando banho e ela perguntou:
- Mãe, por que não sai mais leite do teu titi?
- Porque não tem mais nenê aqui em casa. 
 - Mas vai ter... 

     Esses dias ela chegou na Clínica e falou pra Ju e pra Ana (as secretárias):
- Gurias! Vocês sabiam que quando a minha mãe parar de ir pra Porto Alegre ela vai me dar um irmão?

     Pra falar a verdade verdadeira, eu também estou disposta a dar um irmão ou irmã pra Laura (aquela história da metamorfose ambulante se aplica a mim também). Porém, não gostaria de terminar a especialização com uma barrigona enorme ou com os "titis cheios de leite" tendo que levar um recém nascido todos os meses pra Porto Alegre.

     No momento, tanto eu quanto o Bruno estamos relutantes sobre o assunto, mas vamos ver o que o final de 2017 nos reserva...

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Menina grande X Bebezinho

     Recentemente a Laura completou 5 anos (!!!) e, definitivamente, seus gostos e interesses mudaram de uns tempos pra cá. Pula corda com uma desenvoltura invejável, patina lindamente e anda evoluindo bem na bicicleta. Desenhos, letras, números, lápis de cor e canetinhas são a bola da vez.  Respeitando o tempo limitado de assistir desenho, filmes e afins, a novela infantil Carrossel e de vez em quando as Chiquititas também tornaram-se parte da rotina. Assim como todas as músicas das trilhas sonoras são cantaroladas na hora do banho, pela sala... 

     Há uns dois meses, a crespa estava cantando pra minha mãe uma dessas músicas (não sei de do Carrossel ou das Chiquititas...), e seguiu-se o diálogo:
- Mas e as músicas da Galinha Pintadinha... tu não escutas mais, Laura?
- Claro que não, né Vó!! 
E fazendo cara de desdém ela complementou:
- Galinha Pintadinha é coisa de bebezinho!
- E tu não és mais bebezinho?
- Não! Sou menina grande já!
- Mas menina grande não pode querer dormir na cama dos pais. Só quem dorme na cama dos pais é bebezinho.

     Silêncio. Se fosse possível ver aquela nuvenzinha de pensamento por cima da cabeça da Laura, certamente ela estaria ali, inflada. 

     Suspiro, ombros encolhidos e revirada de olhos = resignação e comentário final:
- Tá bom, tá bom. Sou bebezinho mesmo. Não tô nem aí.

    
     
     
      Semana retrasada, já na finaleira dos 4 anos, a Laura fez menção de dormir na nossa cama e eu comecei a brincar com ela:
- Então tá! Nosso bebezinho vai dormir aqui essa noite. Né bebezinho da mamãe??!! Mas aí tu tens que voltar a fazer tudo o que um bebê faz.
- Tudo o que?

E fui enumerando cada item, nos dedos, enquanto ela arregalava os olhos e ria alto:
- 1: Chupar bico
2: Tomar leite do "titi" da mãe e na mamadeira
3: Fazer cocô e xixi na fralda

Os olhos se arregalavam cada vez mais...

4: Escutar SÓ Galinha Pintadinha

Gargalhadas da crespa. Aí comecei a pegar pesado: falei das coisas que ela não come de jeito nenhum.

5: Comer frutinha raspadinha com colher, principalmente MAMÃO.
6: Comer BATATA amassadinha, purê de BATATA, BATATA assada...

Aí ela ria e gritava:
- Não, isso não! 

     Continuei com a brincadeira por um bom tempo, e ela se divertindo. Até que realmente chegou a hora de dormir. Tranquilamente, ela deu boa noite pro Bruno e pediu que eu fosse até o quarto dela pra nossa leitura de rotina. Fui, li o livro, dei o beijo de boa noite e perguntei se, realmente, ela iria dormir na cama dela. Ela me respondeu quase dormindo:

- Sim, mãe, vou dormir aqui na minha cama. Não quero voltar a ser bebê de novo.

     A obrigatoriedade de comer batata e mamão, mesmo que por brincadeira, fez nossa guria tomar uma atitude de menina grande.



terça-feira, 1 de novembro de 2016

Mini yogini

     Uma das coisas mais certas na vida é que as crianças aprendem com os exemplos. Discursos sem ações não servem pra nada: não adianta falar pros filhos comerem alimentos saudáveis se os pais se entopem de bolacha recheada e coca cola, por exemplo.

     Eu e o Bruno temos filosofias e estilos de vida bem distintos. Ele adora motos, carros, motores, graxa, música alta... eu gosto de yoga, danço flamenco... a Laura absorve e curte um pouco (ou muito) de cada coisa. Logo que coloca o cinto de segurança no carro, ela diz:
- Coloca um som aí, pai!
E vai pelo caminho cantando e dançando rock n roll em um ritmo alucinante (TNT, Bidê ou Balde...).
 Quando estamos em casa, várias vezes ela puxa o tapetão e sugere:
- Vamos fazer uma yoga, mãe?
E lá vamos nós! Isso quando eu não estou fazendo a minha prática e ela se enfia no meio das minhas pernas,sobe na minha barriga...

     Há algum tempo atrás, fui até a padaria próxima da escola numa tardinha a fim de pegar um lanche pra crespa antes da patinação. A padaria é propriedade da família do Miguel, coleguinha da Laura. Quando a mãe dele me viu, veio sorrindo me contar uma história dele. Ela contou que eles estavam andando de carro, quando o Miguel cruzou as pernas como índio (padmassana, na linguagem da yoga), juntou os dedos indicadores e polegares (Gyan mudra, no yoga) e disse, fechando os olhos:
- Mãe, baixa o volume do som agora que eu vou meditar.
A Carmine, segurando o riso diante da atitude do filho,perguntou:
- Meditar? E quem te ensinou a meditar?
- A Laura Turra.

      Como fiquei feliz em saber que estou passando alguma coisa de bom pra Laurinha! E que ela também compartilha com os colegas o que fazemos em casa!

     Tá certo que a nossa meditação é breve, mas aos poucos vamos praticando e nos aprofundando mais e mais.

     Quando chegamos em casa, depois que fiquei sabendo da história do Miguel, perguntei pra sobre a meditação que ela havia ensinado pros colegas e ela demonstrou como tinha ensinado a eles o jeito de ficarem sentados, o gesto das mãozinhas... e logo pegou um livro de yoga, estendeu o tapete no chão e começou a fazer as posições (asanas).
- Yoga tem a ver com a meditação, né mãe?
     
     Como não amar mais e mais uma criaturinha iluminada dessas, que escuta Cachorro Louco com o pai e faz yoga e medita com a mãe??


 


Concentração...

Virabhadrasana (postura do guerreiro)


Vrksasana (postura da árvore).

Kakasana (postura do corvo)

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Histórias do frio

    Como todos os que moram aqui no Estado sabem, o outono e o início do nverno aqui foram extremamente gelados. O programa da família TurraSala, de noite, resume-se basicamente a ficar com o split da sala ligado nos 30º, debaixo do edredom, comendo e bebendo as gostosuras de inverno: cremes, caldos, pinhão, quentão...

    Durante os dias de sol, o programa predileto segue sendo o piquenique da bergamota, entre outras variáveis: passeio de bicicleta com a Bella, andadas e manobras de patins no parque de exposições e brincadeira na casa das amigas.

     No mês passado, levamos a Laura pra prestigiar um campeonato de hipismo. Ela achou o máximo, e enfatizou que tinha o sonho de andar a cavalo. Conseguimos realizar o sonho da crespa, num ensolarada e fria tarde de outono, graças ao tio Jefe e a tia Milena, que nos convidaram pra passar uma tarde legal numa propriedade que eles têm no interior. A Laura montou na Griselda, uma petiça que só anda se alguém andar na frente dela puxando uma corda. Passeio devagarinho, não é um cavalo grande e guapo... mas a crespa não teve o menor receio, adorou e tá valendo.

Griselda e a destemida Laura.
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   Semana passada, fomos até Santa Maria pra dar uma força pro Amarildo, meu concunhado, que sofreu um acidente feio de moto e ficará hospitalizado por um bom tempo.O Bruno ficou com o Ama uma noite, e eu e a Laura dormimos na casa da Cláudia, no quarto com a Mariana (sobrinha mais velha).  E lá em Santa Maria também fazia aquele frio medonho. Ligamos o split do quarto e nos ajeitamos pra dormir, eu e a Crespa na cama de casal e a Mariana na cama de solteiro. Nos despedimos (boa noite, boa noite), fizemos a oração costumeira... e após alguns minutos, a Laura disse, baixinho, pra não atrapalhar o sono da Mariana:
- Mãe, sabe o que...
- O que, Laura?
- Esse ventinho quente... tá me cozinhando.

    Huahuahuahua!!!! Ri tanto que contagiei as outras duas, mas não consegui explicar a razão das gargalhadas pra Mariana. Depois que o ataque de riso coletivo passou, percebemos que o "ventinho quente" ia diretamente na Laura, por isso o cozimento. Consegui contar pra Mariana o que tinha acontecido, então desligamos o split e dormimos, sem ninguém cozida ou assada.
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     A Laura é uma criança super independente: se veste sozinha, vai ao banheiro sozinha... enfim, se vira. Nesses dias gelados, enchíamos ela de roupa: camiseta tipo segunda pele, blusão grosso, moletom, casaco mais grosso ainda, meia calça de lã, calça grossa... parecia uma cebola.
Uma das tantas noites geladas que se seguiram (todos os splits, aquecedores, cobertas e bolsas de água quentes á postos, na hora do banho, ela disse, indo pro quarto, dona de si:
- Deixa que eu tiro a roupa.

    Eu e o Bruno ficamos na sala, devidamente aquecidos pelo edredom e pela Bella, que se encontrava deitada nos nossos colos.  Passados alguns instantes, só escutávamos os grunhidos e bufadas da Laura.
- Grrrr!!!! Mas que coisa chata!!!!!!

     Comecei a rir porque sabia do motivo da brabeza: o moletom que ela estava usando é tri justinho, e certamente ela estava tomando um suador tentando tirá-lo. 

- O que foi, Laura?
- Nada!!! Eu me viro sozinha!
- Queres ajuda pra tirar a roupa?
- Não!!!!!!
Passado mais alguns instantes:
- Mas que sacooooo!!! Que roupa chata!!!!!

     Me vi nela nesse momento e não contive o riso. Ofereci ajuda mais uma vez, mas diante de mais uma negativa enérgica, deixei que ela aparecesse na sala vermelha, escabelada, suada... mas sem o moletom. 
- Aeeee!!! Conseguiu!
Ela respondeu, não achando muita graça:
- Tá... vamos tomar banho agora.

terça-feira, 7 de junho de 2016

A mãe imperfeita e suas consequências.

     Eu e o Bruno conversamos bastante sobre a criação da Laura: limites, valores, ensinamentos, castigos... concordamos em quase tudo, e onde há discórdia, sempre há mais diálogo, até chegarmos em uma solução.

     Há um ponto que eu discordo dele e que frequentemente vem á pauta. Ele sempre diz que um dos dois deve ser o "mau' da história; e que ele não se importa de ser aquele que puxa a frente na hora dos corretivos que envolvam cantinho do pensamento, conversas mais severas e coisas afins. Como quem diz: eu sou o pulso firme, e tu és a manteiga derretida.  

     Não me acho manteiga nada derretida. Sou firme, não me deixo levar por uma carinha triste e quando tenho que tomar alguma atitude mais enérgica, por vezes me pego pensando se não estou sendo muito dura com a Laura.

     Meu pavio é curto, mas procuro alongá-lo e, modéstia á parte, tenho conseguido uns bons metros com o passar do tempo, mas confesso que ás vezes perco as estribeiras e dou meus pitis aqui em casa.  

     Semana passada, depois de pedir calmamente umas 6, 7 vezes que a Laura se sentasse pra tomar seu café da manhã,  me "exaltei" e soltei uns gritos:
-  Café, Laura. Café da manhã!! Quantas vezes mais eu preciso pedir pra tu ires tomar teu café da manhã????!!!

     Ela me olhou com a cara mais séria dos últimos tempos e calmamente (muito calmamente) sentou-se na cadeira e começou a morder o pão com ghee e melado que estava preparado há mais de 20 minutos. A calma dela parecia uma afronta, mas deixei quieto e segui me arrumando, pois precisava estar no consultório em pouco tempo.

     Pra completar, o Bruno (bem mais calmo que eu, e com o tom de voz normal), reforça:
- Filha, vamos logo com esse café. A gente precisa sair logo!

     Voltei do quarto, pronta, e encontrei a Laura mexendo com a colher na xícara de chá, com um olhar de desdém.
- Terminou o café?
Revirando os olhos, ela respondeu que sim.
- Ótimo. Vamos indo então. Temos que escovar teus dentes ainda...

     Nesse momento, me caiu os butiás do bolso, o queixo do rosto e o ** da bunda com o que ela disse:

- Não vejo a hora de crescer bem rápido, pra não ter que morar mais com o pai e a mãe.
- Como assim? Porque isso agora??
- Porque a mãe só grita comigo, o pai só grita comigo e a Bella só late pra mim.

     Me deu vontade de gargalhar alto, mais alto do que os gritos que eu dei com ela. Mas me contive. A Bella estava deitada, dormindo e roncando, como de costume. 

      No piquenique da bergamota, depois do almoço (que se tornou quase diário...), com os ânimos acalmados, puxei o assunto:
- Então tu queres crescer logo pra morar sem eu e o pai?
- Sim.
- Tá bom então. E tu vais morar aonde?
- Não sei... o que tu acha mãe?
- Porto Alegre?
- Não sei... pensei em morar aqui em Santa Rosa mesmo.
- Filha, vou te dizer uma coisa: tu estás crescendo bem rápido sim. Mais rápido do que tu imaginas.
E ela complementou:
- Mais rápido do que TU imagina, mãe!

     Verdade.
     Depois dessas tiradas dela,  me passaram mil e quinhentos pensamentos na cabeça, e quero que ela saiba disso. 

     Então, segue mais uma carta pra ti, Laura:

Filha

Itens importantes sobre crescer e se livrar dos pais:


* A gente cria os filhos pro mundo, e não pra ficarem debaixo da nossa saia. Quero ser uma mãe desnecessária quando  tu ficares adulta (aquele texto que rola na Internet e que até já comentei dele aqui...), mas que tu jamais penses que isso seja desamor. Ganhe o mundo! Viaje, conheça lugares e pessoas sensacionais. Se sentires saudades, vem que te acolheremos de braços abertos, mas não espere que eu diga pra ficares "perto de casa". Se o destino for esse, ótimo! Mas se não for... estarei sempre com a mala pronta pra te visitar ao redor desse mundão.

*  Não existe mãe perfeita, Laura. Temos boas intenções, mas somos humanas e vamos acabar errando uma vez, duas vezes... outras tantas.
 Adoro quando ouço de ti:
- Tu é a melhor mãe que eu já tive!
Que bom!!! Mesmo eu dando meus gritos de vez em quando, tu me consideras boa mãe, a melhor. Vai chegar o dia que serei a pior. E essa história de crescer rápido, torna esse dia ainda mais próximo. 

* "Tu só vais me dar valor quando eu não estiver mais perto."
 Tenho que fazer um pouco de drama, pois isso faz parte do universo feminino, filha! Se sobrou até pra Bella os latidos que ela não dá...
A "frase de efeito" aí de cima vai servir pra quando tu fores adolescente, adulta jovem e finalmente (segundo a tua vontade) estiveres morando sozinha. Primeiro vem a saudade física, depois das mordomias que se tinha em casa (tudo limpinho, roupa cheirosa, comida gostosa...). Mas tenho a impressão que tu vais tirar de letra essas coisas.

Enfim... se eu pudesse dar um "pause" no tempo pra te deixar pequena, pode estar certa que eu faria, Mas como não dá, o melhor é tu obedeceres, aí os gritos serão bem raros. 

Te amo!
Mãe Dea



sexta-feira, 3 de junho de 2016

Sobre felicidade (piquenique da bergamota)

Uma história real sobre o que é felicidade pra Família TurraSala.

   Ontem foi o primeiro em vários dias (mais de uma semana) que o sol deu as caras por aqui. Terminamos o almoço ás 12:15 e tivemos uma brilhante ideia: comer bergamotas no sol com a Laura, enquanto o relógio nos permitia. O Bruno é campeão em procurar pés de bergamota pela cidade; e foi o que fizemos. Percorremos as ruas dos bairros próximos á creche da Laura em busca de algumas bergamotas bem doces. Ao encontrarmos um pé carregado numa calçada, o Bruno se encarregou de trepar na bergamoteira e colher várias, pra alegria da Laura, que acompanhava tudo atentamente de dentro do carro.

    Nos acomodamos a 2 quadras da escola da crespa, onde passa os trilhos do trem e onde há bastante grama e árvores.  Estendemos o tapete do porta malas no chão, o Bruno colocou David Matthew's Band pra tocar no som do carro, deixamos as portas abertas e sentamos pra saborearmos as bergamotas (muito doces) ao sol.  Ao olhar pro lado, o Bruno viu uma bergamoteira enorme há poucos passos de onde estávamos sentados. Lá se foi ele colher mais algumas frutas.

   E ali ficamos os três; deitados na grama, comendo bergamotas, conversando, curtindo aquele sol maravilhoso e uma boa música. Agradeci imensamente por aquele momento. Felicidade são esses breves momentos que conseguimos desfrutar das coisas mais simples da vida. Tenho certeza que esse também foi o pensamento da Laura e do Bruno naqueles instantes.

     Depois de ajeitarmos tudo e seguirmos em direção a escola, a Laura disse:
- Vamos fazer mais vezes o piquenique da bergamota? tava muito bom!

     Verdade, filha. Repetiremos. Que baita programa.
Piquenique de bergamota.

Gratidão por momentos como estes,

Bem vindo, sol!

Oba!! Mais bergas!


sábado, 28 de maio de 2016

Verdadeiro ou falso?

     Segue abaixo algumas afirmações que ouço desde sempre e o veredicto aqui de casa, levando em consideração as experiências vivenciadas:

1) Ser criança é ter sempre uma parte do corpo ralada, rocha ou cortada. De preferência tudo junto.

Veredicto: verdadeiro.
     Num intervalo de 5 dias, a Laura ralou os dois joelhos, as mãos, ficou com as pernas roxas e bateu a cabeça de tal forma que conseguiu um galo gigante e um roxo ali também.

2) Criança não mente.
Veredicto: Falso. Depende da idade, sabe mentir; e muito bem.
     Ultimamente a Laura deu de inventar histórias, causos e (eu é que não vou mentir aqui!!!), admito, mentir mesmo, descaradamente. Quando ela viaja muito no relato, a gente dá uma chamada:
- Mas isso aconteceu mesmo?
Até pouco tempo atrás, ela se entregava:
- É de mentirinha! Brincadeira!
Agora, afirma até a chamada mais enérgica:
- Laura... mentir não é legal. Fala a verdade.
- Tá bom, tá bom...

     Semana passada, quando eu estava em Porto Alegre, na especialização, ela falou pra profe e pros colegas que eu estava grávida. Quando voltei de viagem, várias mães de coleguinhas vieram sorridentes me perguntar pra quando era o bebê. E mais!! Quando a profe puxou o assunto da gravidez, se era verdade mesmo, se ela estava feliz em ganhar um(a) maninho(a)..., ela respondeu:
- Eu me enganei, profe. Minha mãe não tá grávida não. Ela vai esperar eu ficar bem grande, aí ela vai ter dois bebês de uma vez só.

3) Ah... se fosse meu filho...
Veredicto: verdadeiro e falso, depende.
     Já escrevi isso aqui, e repito: eu era uma ótima mãe até me tornar uma. 
Certa vez, muito anos antes da Laura, uma grande amiga de uma amiga minha estava ás voltas com a filha de 3 anos e pouco. A menina corria com a chupeta na boca, até que ela se foi pro chão e o bico voou longe. Depois de acalmar a menina, voltamos a conversar e comentei que já tinha passado da hora de tirar o bico, pois a dentição e a face dela já estavam prejudicadas. A resposta da mãe me deixou um tanto desconfortável:
- Espera teus filhos nascerem pra ver se é fácil, aí a gente conversa de novo.

     Não tive dificuldade nenhuma em tirar o bico da Laura, mas confesso que me lembrava sempre das palavras daquela mãe. 

     A cena clássica da criança se atirar no chão do supermercado ou da loja chorando por não ganhar o que quer nunca aconteceu comigo, mas aprendi a não julgar os pais que passam por isso. Vá saber se a Laura não vai sapatear em uma loja algum dia?!

4) .. é fase.
Veredicto: verdadeiro
     Exemplo: desde recém nascida, a crespa dorme com s luzes apagadas. Agora, com 4 anos, temos que deixar uma luz acesa porque ela está com medo do escuro.
Outro exemplo: grude comigo. Tudo é a mãe, com a mãe, pra mãe. Complexo de Édipo ás avessas. Fase.

5) As crianças aprendem com o exemplo dos pais.
Veredicto: totalmente verdadeiro.
     Não adianta falar, falar, falar, dar lição de moral e não colocar em prática o que se diz. Isso vale pra tudo: desde dividir as tarefas em casa, ter uma alimentação saudável, não jogar lixo no chão, respeitar as pessoas, dar valor a tudo o que se tem... entre outras coisas importantes. 

Um exemplo disso: 
     Nossa alimentação é muito saudável: alimentos processados, embutidos, enlatados, refrigerantes, suco de caixinha, suco em pó... definitivamente não têm vez aqui em casa. Um chocolate vez ou outra ainda se acha, mas no mais, é difícil encontrar porcaria por aqui. Dá pra contar nos dedos as vezes que a Laura consumiu refrigerante ( isso merece um post a parte...). Quando ela vê uma criança tomando refri, ás vezes ela nos pede se pode tomar. Respondemos que não e ponto final. Ela toma água e sai brincando feliz da vida. Outras vezes, ela avisa a criança que está tomando a iguaria, que aquilo faz mal pros dentes. 

     Mais um exemplo, que me arrancou gargalhadas:
Geralmente, quando a Laura não quer comer algo que nunca experimentou, segue-se o diálogo:
- Quer vagem, filha?
- Arghh, não gosto disso.
- Mas tu nunca comestes isso!
- Não quero!
-Experimenta! Se não gostar, não precisa comer.

     E assim, ela passou a comer vagem, lasanha de legumes, pão com ghee e melado...

     Numa noite de frio da semana passada, estávamos nós quatro (Bruno, eu, Laura e Bella) debaixo das cobertas, tomando chá quentinho e nos curtindo, quando o Bruno (que adora uma guloseima) tirou de dentro da mochila dele um pacote daquelas balas de gelatina, em forma de gusano, minhoca... uma coisa bem feia e ruim. Prontamente os dois se atracaram a comer aquelas coisas, e a Laura me ofereceu:
- Quer um, mãe?
- Não filha, obrigada. A mãe não gosta dessas coisas.
- Eu sei que é porcaria, mas é bem bom! Experimenta!
- Não quero, filha.
- Experimenta, mãe! Só esse pedacinho aqui, Se não gostar, não precisa mais comer!

      Hahahaha!!!!
Os comedores de gusano.

Arghhh!!!!


sexta-feira, 27 de maio de 2016

A bombinha

     A Laura está com um problema de saúde recorrente: tosse forte e sibilância dos pulmões. Já fez longos tratamentos, fisioterapia... e assim que completa em média 20 dias do último tratamento, a tosse recomeça e a chiadeira também. Contabilizamos 9 meses de função.

     Esses dias, brincando na casa da Mari Prudente (uma das suas melhores amigas), a Laura ficou sabendo que a a amiga usa bombinha e adorou a ideia.
- Eu também quero usar bombinha!
- Ai, Laura... porque isso?
- Por que a Mari usa! Ela põe uma coisa na boca e aperta duas vezes, aí sai uma fumacinha... é muito legal!

       Há umas 2 consultas atrás, a pediatra da crespa cogitou a hipótese de utilizarmos a tal de bombinha se o quadro persistisse, mas como a última consulta não teve como causa principal a tosse, deixamos de lado o assunto. 

     Há duas semanas, a tosse voltou. Tratamos com os medicamentos que tínhamos em casa, sem obtermos lá muito resultado. Desde ontem, a Laura faz uma cara de sofrimento e diz, quase sem forças:

- Não tô me sentindo bem.
- O que tu estás sentindo, Laura?
- Meu corpo tá estranho.
- Dói alguma coisa?
- Não sei...  a cabeça, o ouvido...
Apesar da tosse forte, percebemos que as dores eram fruto da imaginação, aí resolvemos agir (muito delicadamente).
- Mas se tu não te sentes bem, vamos pro hospital?
- Não, não... não precisa! Acho que já tô melhor.

     Consulta agendada, rumamos pra pediatra hoje de tardinha. Depois de um exame minucioso (o que é de praxe da Dra. Maria Antônia), a Laura ficou brincando e eu e a Dra. conversando. Ela explicou que não tinha mais como escapar do uso da bombinha, ao menos até setembro. Ao escutar isso, a Laura arregalou os olhos, abriu a boca como quem deixa o queixo cair e exclamou:
- O que?!!! Vou usar bombinha??
- Sim, Laura. 
- Que nem a Mari!! Que legal!!!
- Mas e setembro vai demorar pra chegar?
- Sim, vai demorar,
- Oba!

     Na farmácia, ela contou pra todas as atendentes que a partir de hoje ela vai usar a bombinha.
Ao chegar em casa, ajudou a montar o espaçador com uma mestria invejável. E lembrou de uma recomendação importante da pediatra:
- Preciso levar a bombinha pra escola, porque tenho que usar ela antes da educação física e quero mostrar pros meus colegas.

     Desde que a tosse não volte mais, tá valendo levar a bombinha pra todos os lados. 



A bombinha da alegria.

domingo, 8 de maio de 2016

O dia das mães oficial

     Sexta pela manhã, a Laura se levantou e veio correndo em minha direção. Me abraçou, com um sorriso largo no rosto:
- Feliz dia das mães! Te amo!
Retribuí o abraço e agradeci. Entendi o carinho dela. Naquele dia seria a apresentação da escola, então dia das mães.

     Então, hoje, é oficialmente o dia das mães. O Bruno trabalhou a noite inteira, chegou em casa ás 7:30 da manhã. Como de costume, foi sapear na televisão e acabou dormindo no sofá. 

     Fui acordada pela Laura, ás 9:30, esperando outro abraço como o de sexta.
- Bom dia mãe. Vamos levantar?
- Bom dia, filha. Vamos sim.

     Prontamente ela abriu a persiana do nosso quarto e saiu de lá, enquanto eu ainda tentava abrir os olhos. Cheguei na sala, recebi um abraço, um beijo e um parabéns do Bruno, que despertou quando a Laura passou por ele em direção á cozinha. Ele perguntou pra crespa:
- Laura, sabe que dia é hoje?
Não obtendo resposta, ele me perguntou onde ela estava. Respondi que ela estava na cozinha, abrindo a geladeira. Novamente ele pergunta:
- Sabe que dia é hoje, Laura? Dia das mães! Vem dar um abraço e um beijo na mamãe!
A resposta foi surpreendente:
- Ninguém me dá comida!

     Caímos na risada. Passado um tempo, nos encontramos no banheiro. Eu escovando os dentes e ela sentada no vaso, fazendo xixi. 
- Hoje não é mais teu dia, mãe. 
- Como não? 
- Não. Já passou. 
E me olhando com uma cara de desalento, completou:
- Que pena, né?

     Depois de gargalhar novamente, fiquei pensando na romantização que ocorre em datas como hoje. E em como as crianças são espontâneas. O dia das mães pra ela já foi comemorado. Deu pra bola!

     Agora, o Bruno foi pro quarto e mais tarde almoçaremos na minha sogra. Quem sabe eu ganhe mais um abraço de dia das mães da Laura. E se não ganhar, tudo bem. Ganho beijos e afagos todos os dias.  

sábado, 7 de maio de 2016

Os dias das mães

Homenagem  do dia das mães 2016.

     Há 4 anos recebo homenagens do dia das mães da escolinha da Laura. Junto das homenagens, inevitavelmente vêm as lágrimas. Além delas, me divirto cada ano mais, pois conheço melhor os colegas dela, as outras crianças que frequentam a escola e seus pais e mães. 

     Todos os anos o pessoal da escola se esmera pra fazer uma festa legal em eventos desse tipo. E o legal é que todos entram no clima. Esse ano, a profe Cassi, do ballet, fez todas as mães dançarem. Foi muito divertido.  Ano passado, as mães participaram de uma mini gincana. Confesso que meu desempenho não foi dos melhores, devido a minha primeira (e única, até agora...) crise de sinusite. Passei o dia da apresentação de cama, até pensei em continuar ali, mas mãe é mãe, e mesmo troncha, com dor até no "grão do olho" (como diz meu pai...), com a cabeça latejando, me levantei do leito e fui prestigiar a filhota na apresentação.

     Os números artísticos das crianças se resumem nas apresentações dos meninos (capoeira), das meninas (ballet) e de todos juntos, onde eles cantam uma música linda e fazem todos chorar de emoção. Ocorrem algumas variações de ano pra ano, mas basicamente o esquema é este.

     Me lembro da tia Miti dizendo:
- Agora, nós convidamos as mamães pra se aproximarem do palco. E vocês, crianças, olhem bem nos olhos das mamães de vocês e cantem bem lindo pra elas. Ok?
- Siiiiiiim !!!!  Gritou o coro enquanto as mães de acomodavam nas primeiras fileiras de cadeiras ou no chão.

     Eu fui pro chão,  com dor na cabeça, na face... mas com o celular na mão pra filmar a performance da crespa. Ela me viu, nos abanamos e a música começou. Ergui o braço e deixei o celular filmar a cantoria. Obviamente, comecei a chorar. Chorava de emoção, de culpa (por ousar pensar em ficar em casa por causa da sinusite e perder de vê-la ali, toda linda, cantando pra mim) e de dor, já que me entupi mais ainda com tanta lágrima e secreção (ranho, no bom e velho português coloquial). Disfarcei um pouco olhando pra tela do celular. Quando voltei a olhar pro palco, recebia uma "chamada" da Laura, que com os dedinhos apontado pros olhos dela, dizia de longe:

- Mãe, é pra olhar pros olhos dos filhos!

     Depois dessa, comecei a rir e chorar ao mesmo tempo e obedeci; deixei o celular filmando e olhei o tempo todo nos olhos dela. No final da apresentação, cada criança foi se sentar com seus pais e assistimos um vídeo deles na creche (mais uma parte das homenagens). A Laura ficou em pé numa cadeira ao meu lado, acompanhando o vídeo a narrando as partes onde a turma dela aparecia.  Obviamente, mais uma vez, caí no choro. Ela me olhou "de ladial" e me perguntou, não compreendendo o porquê das lágrimas.
- Tá chorando, mãe?
- Não, não!! A mãe tá só limpando um cisco que caiu no olho... 
E de dez em dez segundos ela se virava e me olhava, desconfiada.
- Ai, mãe! Tá chorando??
- Não foi nada, filha!
- Mas então não chora! Não é pra ficar chorando, chorando...!!
- Tá bom.

     Os olhares "de ladial" seguiram até as palmas finais do vídeo. Me coloquei no lugar dela e lembro de também não gostar de ver a minha mãe chorando, em qualquer situação, mesmo que de emoção. Esse ano, pude derramar minhas lágrimas sem fiscalização, sem ter que inventar cisco no olho.




terça-feira, 26 de abril de 2016

Sem sustos desta vez.

     Ontem, nas lembranças que o Facebook nos mostra, completou 3 anos de um dos (graças a Deus) poucos mas grandes sustos que eu tive (até agora), como mãe. Tá lá, pra quem quiser recordar, o dia em que eu consegui trancar a Laura dentro do carro, quando ela tinha um ano e pouco.

     Ás vezes me lembro desse episódio, de como fiquei assustada, da ajuda que recebi, de como a porta do carro ficou (detonada...), de como a minha mão ficou dolorida por dias (de bater insistentemente com a pedra no vidro do carro). 

     Ano passado, aconteceu algo semelhante. Mas o desfecho foi tão diferente, que nem escrevi a respeito. Como a lembrança veio via internet e o acesso ao post de 3 anos atrás ficou mais fácil, vamos ao ocorrido de 2015:

     A Laura estava então com 3 anos e alguns meses, era frio, dia de semana. Eu tinha acabado de buscá-la na escola, estávamos chegando em casa do super. Ela foleava um livro, sentada no cadeirão, com o cinto de segurança afivelado. Eu desci do carro, fechei a minha porta, abri a porta de trás, tirei as sacolas do mercado do banco, fechei a porta, fazendo a volta no carro pra abrir a porta pra Laura e ajudá-la a descer, quando me dei conta que... esqueci a chave do carro no banco, onde estavam as sacolas; exatamente como da outra vez. Assim que me dei conta disso, o carro se trancou.

     Obviamente, me lembrei do cagaço de outrora, mas a partir desse momento, a história começou a mudar. Bati no vidro, ao lado da Laura e ela me olhou. Sorri pra ela, pedindo:

- Filha! Faz um favor pra mãe?

Ela balançou a cabeça, afirmativamente.

- Tira o cinto e puxa esse pininho aí da porta pra cima.
Aguardei até que ela tirasse o cinto e se debruçasse na porta.

- Esse aqui?
- Esse mesmo.

     Plim. Pronto. A porta se destrancou. Ela desceu do carro sozinha, eu peguei a chave que estava no banco, tranquei o carro (sem ninguém nem nada mais dentro) e ambas entramos em casa, tranquilamente. Chega de sustos desse tipo.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

As fadinhas da Luana

     A vida nos enche de surpresas, quando a gente menos espera. Há um mês atrás, numa tarde deliciosa de meditação e yoga, conheci pessoalmente a Vanessa, filha da Cirene, minha mestra mor de yoga e ayurveda, que eu tanto respeito e admiro. Aí veio a Luana e me deu um oi carinhoso. A Luana é amiga da Camila, minha irmã, e é irmã da Vick, fotógrafa gente finíssima que registrou nosso casamento e acompanhou a Laura no seu primeiro ano de vida, com suas fotos lindas.

     Pois bem, chamei as duas pra jantarem na nossa casa essa semana. Sei que elas são amigas de anos, mas do jeito que o papo e as conversas se desenrolaram, parecia que nós três nos conhecíamos desde sempre. Foi demais!

     A Laura, já devidamente instruída sobre a vinda delas, ficou curiosa pra conhecer a "Vanessa da yoga" e a "amiga da Dinda Camila". A crespa está na fase de se exibir. E foi o que ela fez. As gurias, super solícitas, deram corda, e a Laura aproveitou. Não poderia faltar o desfile do vestido de aia (sim, aquele que era meu e que a vó Mari tirou do fundo do baú). 

     Numa das várias performances da noite, ela se foi com o vestido andar de balanço, e exclamava:
- Gurias!! Eu já sei me balançar sozinha! Olhem só!!
     
     Querendo chegar no telhado, de tanto que ela se balançou, o fecho (ziper, reco... como queiram) do vestido se abriu, do meio das costas em direção ao pescoço. A Laura desceu do balanço muito maguary. Eu me surpreendi que isso não aconteceu antes; o vestido tem 33 anos, está com uns rasgos fenomenais embaixo dos braços, desbotado... e sendo usado ao menos 3 vezes por semana intensamente.  O conserto do fecho, á primeira vista, era simples: puxá-lo até o final pra depois fechar ele inteiro, mas não consegui nem tirar o vestido porque estou com um baita corte no dedão direito, o que me impossibilita de realizar as tarefas mais simples do dia a dia. Pensei que logo ela esqueceria do vestido e iria arrumar outra coisa pra continuar com o espetáculo.

     Aí a Luana se prontificou a ajudá-la a tirar o vestido. 
- Mas e agora?
- Agora a gente guarda o vestido que amanhã eu levo o vestido na costureira pra ela trocar o fecho.
- Ah, não... mas eu quero o vestido arrumado agora!

     Vendo que a Laura ficou realmente triste com o ocorrido, a Luana, com a maior delicadeza e doçura, propôs:
- Olha só, Laura; tive uma ideia.
- O que?

Esfregando as palmas das mãos e colocando o vestido no colo, a Luana disse:
- Vamos chamar as fadinhas pra nos ajudar a consertar o vestido.
- Mas onde elas estão? Não vejo nada!
- Ah... elas estão por perto, e se a gente pedir a ajuda delas, elas vem!

     Eu e a Vanessa entramos na onda, e começamos a esfregar as palmas das mãos, junto com elas.

- Agora, vamos colocar as nossas mãos aqui no vestido e pedir pras fadinhas que nos ajudem a deixar o vestido da Laura novo.
Feito. Passados alguns segundos de total concentração das quatro, a Luana abre todo o fecho e volta a fechá-lo completamente. A cara de surpresa da Laura (e nossa também, praticipando ativamente da mágica da Luana) foi digna de ser filmada.

     Depois ela queria saber onde as fadas estavam, pois ela continuava sem vê-las. Com a mesma doçura e delicadeza, a Luana disse que elas estão sempre por perto, por mais que não possamos enxergá-las, e que sempre que a Laura precisar de ajuda, é só pedir pras fadinhas.

     Registramos a visita com fotos e no dia seguinte, a Luana mandou uma das nossas fotos cheia de fadas, pra eu mostrar pra Laura. Novamente, a carinha de encanto dela foi demais. E o episódio é relatado com o maior entusiasmo pra todo mundo.
- E tem até foto com elas! Se bem que na hora a gente não vou nenhuma...


     Ainda no dia seguinte, comentei com ela que tínhamos que levar o tecido pra costureira fazer a saia de flamenco que ela há tempos me pede.
- Não precisa levar na costureira, mãe.
- Como não?!! Tu queres tanto uma saia de flamenco!
- É só pedir pras fadas da tia Luana que elas fazem a saia pra mim!

Luana, Laura, Vanessa, eu e as fadas.


quarta-feira, 16 de março de 2016

A magia da cama dos pais.

     Desde recém nascida, a Laura dorme bem. Desde os seus dois meses, ela dormia no seu quarto, no berço. Desde os dois anos, ela dorme na cama. Há uns 2, 3 meses, ela acorda na madrugada, por volta das 4, 5 da manhã, chama por nós ou e vai pro nosso quarto, pedindo pra dormir conosco.

     Antes disso, ela ia até o quarto, ficava sentada ao lado da cama até que algum dos dois acordasse. Numa dessas vezes, usando toda a calma do mundo, depois de me recuperar do susto de ver um vulto me olhando no escuro, disse que ela poderia nos chamar, sem problemas.
- Mas eu não quero atrapalhar o sono de vocês.

     Eu era uma ótima mãe até me tornar uma. Sempre dizia que cada um dormiria no seu quarto e ponto final. Agora, acordo na madrugada com o chamado:
- Mãe!
- Que...
-Vem aqui!
O certo seria me levantar, ir até o quarto da Laura, conversar a fim de persuadir a dormir ali, na sua cama. Mas o sono é maior... mal consigo fazer o chamado de volta:
- Vens tu aqui.

     Tec, tec, tec... escuto os passinhos dela e já tiro a coberta pra deixar ela se aninhar no nosso meio. Ok, ok... podem me julgar ou dizer: "eu avisei". 

     Sabia que a fase de ela vir pra nossa cama chegaria. E tanto eu quanto o Bruno estamos levando numa boa, sem stress. Gostamos quando dormimos junto dela, o problema é que a nossa cama é pequena (por sermos pequenos também e por sempre acharmos que cada um deve dormir na sua cama), sendo assim, falta lugar pra acomodar confortavelmente os três. O que acorda mais torto, leva a Laura de volta pra cama dela.

     Nas noites de trabalho dele, nos divertimos muito na cama, e acabamos dormindo juntas, ou na nossa cama, ou na cama dela. Se eu acordar antes do Bruno chegar, faço as devidas trocas, caso contrário, ele faz a mão antes de descansar (geralmente pouco antes de nós duas levantarmos...)

 5 da matina de segunda feira, o chamado se repetiu:
- Mãe!
- Que...
-Vem aqui!

    Fui. Isso porque estava sem sono, e resolvi ver o que acontecia diante de um diálogo matutino.
- Dorme comigo?
- Por que? Tu estavas dormindo aqui sozinha até agora.
- Eu tive um sonho horrível...
- Mas passou. Agora fecha os olhos e dorme de novo,
- Dorme comigo?
- Filha... a tua cama é pequena demais pra nós duas.
- Então deixa eu dormir lá na cama de vocês?
- Lá também fica apertado.
- Mas eu não quero ficar aqui sozinha... e se eu sonhar de novo?
- Mas é só pensar em coisas boas que os sonhos serão legais também.
E o diálogo matutino estendeu-se por mais um tempo. Divagamos sobre a madrugada, quantas horas faltavam pro sol aparecer, quais eram os sonhos terríveis que ela havia sonhado... até que eu comecei a sentir os olhos pesarem e tive uma ideia:
- A Bella vai dormir aqui contigo.

     Fui, tastaviando de sono, pensando que daquela madrugada em diante, ela dormiria na sua cama, pra sempre. Pensei errado. Tec, tec, tec... ouço os passinhos dela em direção ao nosso quarto:
- Mãe, não consigo pensar em nada, aí não sonho nada e preciso deitar aqui com vocês.
O sono, mais uma vez é maior do que eu. Arredo a coberta pra que ela consiga se aninhar no nosso meio.

     Quanto tempo dura essa fase? Não sei. Sei que a magia da cama dos pais habita a cabeça das crianças, o sono desses pais muitas vezes é maior do que a disciplina e tudo passa, basta dar tempo ao tempo e investir na conversa sobre os pensamentos e os sonhos lindos que eles podem ter nas suas próprias camas.

Caras e bocas na  noite das meninas.


segunda-feira, 14 de março de 2016

"Quero ficar doente"

     Há algumas semanas, a Laura contou que certos colegas ficaram doentes. O Cauã, a Mari Silva, o Lucas... até a profe não foi dar aula um dia porque esteve com problemas de saúde. Cada dia ela relatava um história de dor de garganta, febre... e durante aquela semana, ela começou a ficar "ranhenta" e com tosse. Prontamente falei coma pediatra, pelo histórico de otites que a crespa apresenta quando o nariz começa a entupir.


Na ida pra escola, perguntei:
- Será que a Mari Silva já está melhor, filha?
- Acho que sim. E acho que o Lucas também melhorou.
- Quantos coleguinhas que ficaram doentes, né?
- É... eu também queria ficar doente. Pegar uma coisa assim.
- Credo, Laura!! Por que? Ficar doente não é legal!
- Ah...  mas todo mundo vem perguntar como a gente tá... vem conversar com a gente...
- Mas tem que tomar remédio, ir no médico... o que tem de legal nisso?
- Eu queria...
- Deixa de ser boba!

     Passados alguns minutos, ela deu uma tossida feia e eu disse:
- Olha aí essa tosse...
- Tô doente mãe!!!!!

     A euforia com que ela disse a frase me fez rir.
- É verdade. Estás doente.
- Então quando a gente chegar na escola, desce e fala pra tia Miti que eu preciso deitar no colchonete pra relaxar. Quando os colegas ficam doentes, eles deitam no colchonete.

     Minha vontade era de gargalhar diante de tal pedido. Ri (por dentro) e segui rumo á creche. Lá chegando, ela fez questão de entrar de mãos dadas comigo (lembrando que há pouco tempo, ela disse que não precisava mais que eu a conduzisse até a entrada da escola, por já estar no nível II...).  Pois bem, entrei na onda, e falei pra tia Elaine e pra profe Ana que a Laura estava com coriza no nariz e tosse, por conta disso, ela precisava deitar no colchonete se não se sentisse bem.

     A profe Ana levou a conversa a sério e foi muito solícita em acompanhar a Laura até a sala de aula. Assim que as duas sumiram nas nossas vistas, comentei o pedido da crespa com a tia Elaine. No fim da tarde, fui buscá-la e soube pela profe Ana que a Laura se queixou de dor de ouvido e tomou um remédio milagroso, confeccionado na própria escola: água com açúcar.  Ali senti a malandragem da criança... Fomos consultar o o diagnóstico foi otite média em ambos ouvidos e rinosinusite. O tratamento teve início naquela noite mesmo.

     No dia seguinte, por volta das 15:00, fui avisada que a Laura estava com febre e queixando-se - de verdade - de dor de ouvido, e que, por conta disso, não tinha participado da educação física. Pensei que iria encontrá-la amuada num canto, mas não! Estava participando das atividades da turma normalmente, feliz da vida. Senti que ela não entendeu muito bem quando a profe a chamou pra irmos pra casa, mas ela obedeceu. Quando já estávamos no carro ela perguntou:
- Mas por que eu fui embora antes dos meus colegas?
- Porque tu estás com febre, filha.
- Ah, é... mas o ouvido não dói mais tanto.
- Mesmo assim, a gente vai pra casa.
- E a aula?
- A aula já era por hoje, Quando se está doente não dá pra ficar na aula, nem entrar na piscina, nem nada dessas coisas. Tem que tomar o remédio e esperar passar.
- Mas tava legal. Eu queria voltar pra aula.
- Mas e a vontade de ficar doente?

     Aí ela deu aquela bufada característica e desabafou:
- É muito chato ficar doente!
Não me contive e larguei a máxima de todas as mães:
- Eu avisei...

     Além dos vírus, bactérias, alergias, há outros fatores envolvidos: o poder da mente, o desejo de ser cuidada, acalentada como os colegas enfermos.  Fiquei sabendo que quando ela é repreendida na escola, por mais banal que seja o motivo, a dor de ouvido anda aparecendo do nada, como forma de fuga. Pelo jeito até a revisão na pediatra, a profe Ana vai ter que ministrar o remédio milagroso mais vezes.

Os filhos sobrevivem aos pais

     Os filhos sobrevivem a nós, pais. Erramos por excesso de zelo, descuido e por outros tantos motivos que me fogem agora. Aconteceu comigo (o maldito amendoim que eu dei pra Laura comer e que deu aquele susto todo, a vez que eu deixei o bebê conforto cair com ela dentro, de cara no chão...), tudo está aqui no blog, escrito como forma de registrar que por melhor que sejam as nossas intenções, falhamos.

     Minha falha hoje atingiu em cheio a cabeça da Laura. Estávamos eu e o Bruno, deixando-a na escola. SEMPRE deixo a "muchi" no banco de trás, ao lado do cadeirão da crespa. Pois hoje, não sei porque cargas d'água, colocamos as coisas dela no porta malas do carro. Estacionei do outro lado da rua, desci e fui em direção ao porta malas, abri o mesmo, peguei a muchi,  o Bruno desceu, foi cumprimentar um pai conhecido, combinar o chimarrão na patinação mais tarde, Quando eu pulei pra pegar a tampa do porta malas (sim, pulei porque não alcanço), ela veio com força e só escutei um "tuc" seco.

     Quando olhei pra baixo, vi a Laura agaicha, chorando alto, com as mãozinhas na cabeça. Só consegui me abaixar e abraçá-la, pedindo desculpas, mil desculpas. O Bruno veio correndo, olhamos a cabeça e constatamos que o galo já estava formado, sem cortes nem nada de mais. Mas o remorso de não ter olhado ao redor antes de saltar e pegar a tampa me corroeu por dentro.

     Os demais pais que estavam deixando as crianças na escola, acompanharam a cena e nos olhavam com uma expressão de "Putz!!! Mas que baita azar!!".  E foi mesmo. Entrei na escola com a cara mais envergonhada do mundo, as profes acalmaram a Laura, a levaram pra sala, longe dos meus olhos, quando a tia Elaine me disse:
- Calma... isso acontece nas melhores famílias. 

     Depois de tudo voltar ao normal (eu parar de me culpar tanto, a Laura se acalmar...), voltamos ao carro e o Bruno me alertou:
-Sempre, sempre a gente tem que olhar ao redor. A Laura desce do carro e fica ao nosso lado, nunca vai pra longe de onde a gente está.
Pois é. Eu sempre, sempre olho. Sei que ele também faz isso. Mas hoje... não olhei.

     Na saída da escola, fomos munidos de lanche e chimarrão (segundas feiras, ás 18:30, é a hora da patinação). A Laura saiu sorridente, feliz com o programa de logo mais.
- E a cabeça, filha... melhorou?
- Não. Foi tua culpa, mãe.
- Eu sei, amor! Desculpa! Não vi que tu estavas tão perto.
(Bruno) - A mãe ficou triste em ter te machucado. Foi sem querer mesmo, filha.
- É, eu sei.
(Bruno) - Quando casar, sara!

     Caí na gargalhada. Uma porque fazia um tempão que eu não escutava mais essa expressão, outra porque vi, pela cara da Laura, que ela não entendeu o que o pai acabara de dizer. Explicamos a ela e eu segui rindo.
- Agora a mãe ficou feliz, com a história do "quando casar, sara"!

     E sara mesmo. Só espero que os próximos deslises maternos sejam menos dolorosos.

sábado, 12 de março de 2016

Culinária da Laura

     A volta da escola é sempre cheia de novidades. A Laura conta como foi a sua tarde, as atividades que ela e os colegas desenvolveram, as brigas, as brincadeiras... Semana passada a bola da vez foi a culinária.

- Mãe! Fizemos culinária hoje!
- Uma receita culinária?
- Sim! Foi muito legal!
- E era doce ou salgado?
- Doce. Com gelatina de vários sabores. 

     Fomos até em casa sob a narrativa da "culinária" da Laura.  Me empolguei tanto que depois de decorar a receita, fomos no supermercado a fim de comprarmos os ingredientes. 
Ela me explicou como se fazia o doce.
O único ingrediente que eu acrescentei na receita original foi uma gelatina sem sabor.

CULINÁRIA DA LAURA
- 3 gelatinas de sabores distintos (os mais coloridos possíveis) e preparadas em potes separados. Cortar em cubinhos.

     Fizemos essa primeira parte e tivemos que aguardar as gelatinas ficarem prontas.Nesse meio tempo rolou o banho, a janta, as brincadeiras... Depois cortamos os quadradinhos e partimos pra segunda etapa.
Colocando a mão na massa. Ajudando a fazer a gelatina.



- 1 lata de creme de leite (segundo a Laura, aquela caixa pequenininha que tem um morango na frente).
- 1 lata de leita CONESCADO (Sim, conescado... ri muito - longe da Laura - quando ela me descreveu a receita. Pedi pra ela repetir umas 4 vezes durante o "feito" da receita, até que ela começou a falar certo: condensado)
- 1 pacote de gelatina sem sabor, previamente derretida.

Misturar o creme de leite, a gelatina sem sabor e o leita "conescado" com os quadradinhos de gelatina coloridos. Colocar tudo numa forma e para gelar. Comer assim que endurecer.

     Na segunda etapa, a Laura ajudou a misturar os quadradinhos da gelatina no creme, a mexer um pouco com a colher... mas o bom mesmo foi "limpar" a caixinha do leite "conescado".


Participação em todas as fases.
Quase pronto!





quinta-feira, 10 de março de 2016

"O pior dia da minha vida"

     Logo no início do ano letivo de verdade, na primeira semana de aula do famigerado Nível II, fui buscar a Laura na escola e me deparei com uma cara pouquíssima amigável. Coloquei-a no cadeirão, e quando estava prendendo o cinto de segurança, ela disse, tristonha:

- Hoje foi o pior dia da minha vida.

     Não sei descrever a minha reação diante daquela frase - o que poderia ter abalado tanto uma criança de 4 anos? Mantive o mesmo tom de voz e perguntei:

- Mas o que aconteceu?
- A profe brigou comigo.
- Mas as tuas profes são tri queridas, amigas de todos os colegas... se ela brigou contigo, ela teve um motivo... certo?
- É... eu e a Helena não guardamos os brinquedos no lugar... e a gente tava brigando também. Aí a profe brigou com a gente.

     Não entendi se ela e a colega estavam brigando ou brincando... mas resolvi não insistir muito nas perguntas mais específicas pra evitar que ela ficasse ainda mais maguary. Concluímos a conversa assim:

-Mas e tu lembras o que acontece quando tu terminas de brincar e deixa todos os brinquedos espalhados pela casa?
- Eu tenho que guardar eles.
- E quando tu não guardas, ou fica dizendo: "Já vou, mãe...  já vou guardar..."
- Tu briga comigo.
- Ah... então agora imagina a profe com um monte de crianças na sala deixando tudo desorganizado... ela pode brigar com quem não ajuda, né?
- É, mas mesmo assim... foi o pior dia da minha vida.

     Quando chegamos em casa, o "pior dia da vida" foi logo deixado de lado pelas brincadeiras comigo e com a Bella. 

     Laura: 
     O que vou escrever agora, provavelmente tu irás conseguir ler só daqui há alguns (poucos) anos. Existirão muitos "piores dias" na tua linda vida. Uma prévia: perder em campeonatos de esporte no colégio, se desentender com a melhor amiga (sempre por bobagem, acredita em mim!!!),, tirar uma nota baixa no colégio... Quando cresceres um pouco mais, esses dias ruins continuam: saudade de casa quando se mora longe, uma, duas (ou várias) reprovações no vestibular, se apaixonar por um babaca que não te merece (e tu ainda vais sofrer por isso...). E tu vais crescer mais, vais se tornar uma mulher! Mas mesmo assim, filha... os dias ruins vão surgir. 

   Esse teu primeiro "pior dia da vida", me fez recordar de tantos dias ruins que eu tive e tenho. E não vou descrevê-los aqui porque dramalhão é algo que não deve fazer parte da nossa estadia aqui. A gente esquece deles, vai por mim!! Os dias legais e felizes compensam tudo, Depende do nosso olhar em relação aos acontecimentos. Não estou querendo dizer pra tu nunca ficares triste quando algo ou alguém te decepciona, mas que tu aprendas alguma coisa com esses momentos que inevitavelmente irão acontecer.

     Conte comigo e com o teu pai. Estamos e estaremos sempre de braços abertos pra te acolher.
Te amo
Tua mãe.

sábado, 5 de março de 2016

Permanente

     Sempre, desde que me conheço por gente, tenho o desejo de ter cabelos crespos. Na minha infância, me lembro da minha mãe e das minhas tias com os cabelos enormes, e achava todos lindos. Sabia o que as deixava com os cabelos dos meus sonhos: o permanente.  Várias vezes senti o fedorão que exalava do cabelo da mãe quando ela voltava do salão. Reclamava do cheiro, mas no fundo achava que valia á pena feder uns dias e passar dois, três meses com os cabelos crespos.

     De tanto que eu desejava os cachos, com 6 anos a mãe me levou pra fazer permanente nas pontas dos cabelos. Me formei na Educação Infantil exibindo lindos cachos dourados. Claro que, passado um tempo, as tais pontas que passaram pela química se tornaram uma vassoura. Mas foi cortá-las e deu, meus cabelos voltaram ao normal.

     Há tempos venho tentiando meu cabaleireiro pra me deixar crespa. Como ele é um profissional de primeira, nunca me iludiu. Mas surgiu uma esperança quando ele disse que havia como fazer o permanente com um rolo um pouco maior, sem me deixar com os cabelos igual á um ninho de pombas bêbadas. Fizemos o teste com uma pequena mecha do cabelo, assim, ele concluiu que valeria a pena realizar o procedimento.

     Nesse dia, a Laura me acompanhou. Passei a manhã toda no salão, com aquela fedentina terrível na cabeça. Quando ela entrava na mesma peça do salão onde eu estava, ela abria a boca. Quando ia brincar nas outras peças, saía normalmente, lépida e faceira. Lá pela terceira, quarta vez que ela abriu a boca ao se aproximar de mim, perguntei:
- Porque tu ficas com a boca aberta quando chega perto de mim?
- Tô respirando pela boca. Teu cabelo tá muito fedido.

     Saímos do salão ao meio dia. Eu, saltitante de tão feliz, com meus cabelos ondulados, Ao prender o cinto de segurança no cadeirão da Laura, cheguei bem perto dela, que reclamou:
- Mas que coisa mais fedida esse teu cabelo, mãe!
Eu, rindo, respondi:
- Eu sei que é fedido, filha. Mas agora a mãe vai ficar com o cabelo parecido com o teu! E o cheiro sai depois que eu lavar umas duas vezes meus cachos.
- Realizou teu sonho, né mãe?!

     Realizei. Realizei até a primeira lavada. Meus cabelos seguem lisos e só ondulam quando eu os deixo preso num coque por horas e solto. As ondas duram uns 40 minutos. Antes, duravam 5. Tô no lucro!!! O Bruno, vendo meu cabelo igual, pediu que eu não repita a operação por causa do budun. Segundo ele, meu cabelo estava com cheiro de durepox. 

     Lições sobre esse episódio: 1) O tempo passa, as gerações evoluem... mas algumas cenas sempre se repetem entre mães e filhas (o fedorão do permanente no nosso caso).  2) Mulher crespa quer ser lisa e vice versa. eu tentei, mas as ondas nos cabelos definitivamente não são pra mim. 3) Adoro ainda mais os cachos da Laura e vou incentivá-la a gostar deles quando ela demonstrar desejo de alisá-los (sim, sei que esse dia vai chegar...).