quinta-feira, 22 de outubro de 2015

O dinheiro

     Acredito que nunca fiquei tanto tempo sem escrever aqui. E não é por falta de assunto, o que falta mesmo é tempo. Desde a última postagem, várias e diversas coisas aconteceram: o Bruno rompeu o ligamento cruzado do joelho direito, fomos (juntos!!!) ao meu tradicional retiro de Yoga no Mosteiro, ele operou o joelho, passamos uma temporada da casa da sogra pra evitar que ele subisse escadas, fiz cursos paralelos á especialização, dei entrevista pro RBS notícias, completamos 6 anos de casamento... ufa!

     E no meio de tudo isso estava a Laura, participativa em tudo, descobrindo uma série de coisas e surpreendendo com as suas tiradas quase que diariamente. Uma das mais marcantes foi relacionada á dinheiro. 

     Obviamente que pela idade, ela não tem noção de como se ganha dinheiro.  Tanto eu quanto o Bruno não somos consumistas, e estamos passando pra  Laura ensinamentos básicos sobre o verbo mais empregado no mundo capitalista: "comprar". Compra-se o necessário, sem deslumbres, sem exageros. 

     Estávamos eu e ela numa loja, e ela se engatou num carrinho de supermercado estilizado, que serve como porta frutas de cozinha (lindíssimo, mas totalmente sem serventia na nossa casa). Aí começaram os pedidos:
- Mãe, compra! Olha só que lindo!
Eu, conversando com a dona da loja, tentava distraí-la com outra coisa; sem sucesso.
- Olha só que legal esse carrinho! Compra mãe!
E se foi a Laura empurrando o carrinho em direção á porta.

     Quando percebi que ela ia mesmo saindo da loja com o carrinho, interrompi minha conversa, chamei-a e expliquei:
- Filha... não posso comprar esse carrinho porque a mãe não tem tanto dinheiro junto.
A resposta dela foi típica da inocência infantil:
- Mas é só ir no banco e comprar dinheiro, mãe!!

     Como eu iria explicar pra ela que o negócio não funciona assim? Esse foi meu pensamento enquanto todos riam dentro da loja. Resolvi não entrar em detalhes e comecei a negociação:
- Ok. Vamos até o banco comigo então?
- Tá bom, mas eu vou levar o carrinho.
- Mas a gente não pode levar o carrinho sem pagar, Laura!
- Mas eu quero levar!!!

     A dona da loja, que estava escutando e se divertindo com a cena, me deu uma mão:
- Vamos fazer o seguinte, Laura: eu guardo ele pra ti, tu vais no banco com a tua mãe "comprar" o dinheiro aí tu voltas depois e leva o carrinho!

     E a crespa, mais do que depressa, olhou pra ela com um olhar desconfiado, puxando o olho com o dedo:
- Tá bom... mas tia: fica de olho no carrinho. Não deixa ninguém comprar ele!!

     Mais risos do pessoal da loja e consegui voltar pra casa sem o item tão desejado. No caminho, comecei a explicar pra Laura que nem tudo o que a gente quer pode ser comprado, que o dinheiro se consegue através do trabalho... tudo numa linguagem adequada pra idade dela.
 - Mas mãe, vai no banco e compra dinheiro! É simples!
Decidi encurtar a coisa:
- A mãe não tem dinheiro, filha. Pronto. 
- E o pai, tem?
- Não sei... aí tu tens que perguntar pra ele...
- Então eu vou perguntar pra ele.
Fim da conversa, ela virou as costas e foi brincar no sol com as bonecas.

     Alguns minutos depois, precisei sair pra comprar um anti pulgas pra Bella:
- Filha! Vamos sair com a mamãe, temos que comprar um anti pulgas pra Bella.

     Ela me olhou séria, colocou as mãos na cintura e disse:
- Ué?? Tu "não tem dinheiro, não tem dinheiro"... pede pro pai comprar o remédio pra Bella!!!

     Depois desse episódio, ficou mais fácil a negociação dos desejos da Laura (isso mediante mais uma longa explicação sobre o valor das coisas e mais algumas tiradas sensacionais dela).