segunda-feira, 14 de março de 2016

"Quero ficar doente"

     Há algumas semanas, a Laura contou que certos colegas ficaram doentes. O Cauã, a Mari Silva, o Lucas... até a profe não foi dar aula um dia porque esteve com problemas de saúde. Cada dia ela relatava um história de dor de garganta, febre... e durante aquela semana, ela começou a ficar "ranhenta" e com tosse. Prontamente falei coma pediatra, pelo histórico de otites que a crespa apresenta quando o nariz começa a entupir.


Na ida pra escola, perguntei:
- Será que a Mari Silva já está melhor, filha?
- Acho que sim. E acho que o Lucas também melhorou.
- Quantos coleguinhas que ficaram doentes, né?
- É... eu também queria ficar doente. Pegar uma coisa assim.
- Credo, Laura!! Por que? Ficar doente não é legal!
- Ah...  mas todo mundo vem perguntar como a gente tá... vem conversar com a gente...
- Mas tem que tomar remédio, ir no médico... o que tem de legal nisso?
- Eu queria...
- Deixa de ser boba!

     Passados alguns minutos, ela deu uma tossida feia e eu disse:
- Olha aí essa tosse...
- Tô doente mãe!!!!!

     A euforia com que ela disse a frase me fez rir.
- É verdade. Estás doente.
- Então quando a gente chegar na escola, desce e fala pra tia Miti que eu preciso deitar no colchonete pra relaxar. Quando os colegas ficam doentes, eles deitam no colchonete.

     Minha vontade era de gargalhar diante de tal pedido. Ri (por dentro) e segui rumo á creche. Lá chegando, ela fez questão de entrar de mãos dadas comigo (lembrando que há pouco tempo, ela disse que não precisava mais que eu a conduzisse até a entrada da escola, por já estar no nível II...).  Pois bem, entrei na onda, e falei pra tia Elaine e pra profe Ana que a Laura estava com coriza no nariz e tosse, por conta disso, ela precisava deitar no colchonete se não se sentisse bem.

     A profe Ana levou a conversa a sério e foi muito solícita em acompanhar a Laura até a sala de aula. Assim que as duas sumiram nas nossas vistas, comentei o pedido da crespa com a tia Elaine. No fim da tarde, fui buscá-la e soube pela profe Ana que a Laura se queixou de dor de ouvido e tomou um remédio milagroso, confeccionado na própria escola: água com açúcar.  Ali senti a malandragem da criança... Fomos consultar o o diagnóstico foi otite média em ambos ouvidos e rinosinusite. O tratamento teve início naquela noite mesmo.

     No dia seguinte, por volta das 15:00, fui avisada que a Laura estava com febre e queixando-se - de verdade - de dor de ouvido, e que, por conta disso, não tinha participado da educação física. Pensei que iria encontrá-la amuada num canto, mas não! Estava participando das atividades da turma normalmente, feliz da vida. Senti que ela não entendeu muito bem quando a profe a chamou pra irmos pra casa, mas ela obedeceu. Quando já estávamos no carro ela perguntou:
- Mas por que eu fui embora antes dos meus colegas?
- Porque tu estás com febre, filha.
- Ah, é... mas o ouvido não dói mais tanto.
- Mesmo assim, a gente vai pra casa.
- E a aula?
- A aula já era por hoje, Quando se está doente não dá pra ficar na aula, nem entrar na piscina, nem nada dessas coisas. Tem que tomar o remédio e esperar passar.
- Mas tava legal. Eu queria voltar pra aula.
- Mas e a vontade de ficar doente?

     Aí ela deu aquela bufada característica e desabafou:
- É muito chato ficar doente!
Não me contive e larguei a máxima de todas as mães:
- Eu avisei...

     Além dos vírus, bactérias, alergias, há outros fatores envolvidos: o poder da mente, o desejo de ser cuidada, acalentada como os colegas enfermos.  Fiquei sabendo que quando ela é repreendida na escola, por mais banal que seja o motivo, a dor de ouvido anda aparecendo do nada, como forma de fuga. Pelo jeito até a revisão na pediatra, a profe Ana vai ter que ministrar o remédio milagroso mais vezes.

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