quarta-feira, 17 de junho de 2015

As últimas

     A crespa sai com cada uma... certamente se eu me dedicasse mais, daria pra escrever um post inteiro de cada pérola que ela fala. Mas o objetivo maior é de que essas maravilhas não se percam no caminho. Aí vão algumas das mais recentes:


A "vozinha"

     Se tem coisa que me irrita, é quando a criança começa a afinar a voz por gosto na hora de falar. No último post, me esqueci de comentar esse detalhe, pois além de exibicionista, maguary e carinhosa, a Laura anda afinando a voz em certas ocasiões. Quando isso acontece, logo corrijo:
- Fala direito, filha. Não faz essa "vozinha". 
- Tá bom, mãe.

     Hoje, estávamos almoçando num restaurante onde a televisão estava ligada e passava uma matéria sobre um professor homossexual que foi xingado pelo pai de um aluno que recebeu uma nota baixa (como se fosse culpa da opção sexual do professor o piá ter tirado nota baixa...). No início da matéria, estava prestando atenção, mas depois me distraí. O professor deu entrevista e a Laura comentou:
- Aquele tio tá falando com aquela vozinha.

    Vi que o Bruno começou a rir, e até eu me tocar do que ela estava falando, demorou um pouco. Impressionante em como ela se liga nas coisas! Depois de eu rir junto, explicamos que existem pessoas que tem a voz mais fina. Mas que ela tem que falar com a voz dela, e não forçar pra ela sair fininha.

Pista

     Brincadeira de esconde esconde em casa. Fui procurar a Laura e vi um pedaço do casaco dela.
- Aha!!! A Laura me deixou uma pista!!! Acho que encontrei ela!!!
Bom, depois dessa minha deixa, na vez dela se esconder, ela dizia:
- Vou deixar uma pizza pra ti me encontrar, mãe!

Kombi

- Mãe, como é mesmo o nome desse carro?
- Kombi.
- Ah, tá... então vou levar as minhas filhas pra passear na Pongui.

Pascote Lixonildo

     O Lixonildo é um boneco feito de sucata, que passou um dia na casa de cada coleguinha da escola. Junto dele veio um caderno onde tivemos que relatar as atividades feitas durante o dia da visita. 
- Que legal, filha! Hoje é o teu dia de levar o Lixonildo pra casa!
- É! Ele é o "pascote" da turma. Sabia, mãe?

Pai bonito

     Em visita ao Sicredi com a creche, a Laura é indagada por uma conhecida nossa (que eu ainda não descobri quem é...).
-Tu és filha da Déia e do Bruno?
- Sim!
- Ah, que legal! A tua mãe é bem bonita, mas o teu pai... ele é feio, né?
Com experssão pensativa e olhando pro além, ela responde:
- É, mas até que ele fica bonito quando se arruma pra ir numa festa.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Fase meiga, exibicionista e maguary.



     A Laura nunca esteve tão meiga, carinhosa e amável.  "Te amo, mãe", "Te amo, pai", "Amo vocês" e "Amo todo mundo" são frases ditas diariamente, várias vezes. O comportamento com outras crianças melhorou bastante. Já não há mais tanta briga e disputa por brinquedos. Com as pessoas em geral, a Laura tem se mostrado bem simpática, dando bom dia, boa tarde, boa noite e retribuindo sorrisos. Há pessoas que ela simpatiza ha tempos, como a Tati (que trabalha num restaurante onde almoçamos eventualmente e nossa conhecida há anos) e a Têre, a moça eu limpa o prédio. Essas são agraciadas com altos papos, beijos, abraços e alegres cumprimentos.

Meiguice até na hora de dormir.


     Outra característica que venho observando na crespa é a vontade quase que incontrolável de aparecer, se mostrar. Ela dança, canta, conta histórias, desfila. Não é raro estarmos conversando entre nós (eu e o Bruno) ou com outras pessoas e ela diz:
- Tá, agora deixa e falar.
E conta histórias, inventa outras tantas, tagarela sobre todos os assuntos.
Quanto mais ela for o centro das atenções, melhor.
Esse dias ela "concedeu" uma entrevista exclusiva à prima Gabi, com direito á platéia, desfile e abano a lá Miss. 


     E a parte maguary... essa é realmente surpreendente. Primeiramente, vou explicar o que é maguary. Quando ficamos chateados, de cara, magoados com alguma coisa, dizemos que estamos maguarys. Uso esse termo há anos, e ele foi incorporado ao vocabulário do Bruno e consequentemente ao da Laura.

     Quando tenho que repreendê-la por alguma atitude ou ação que não foi legal da parte dela (a isso chamamos educar os filhos...), tenho que falar com ela da maneira mais delicada que consigo, caso contrário, ela enche os olhos de lágrimas e faz uma cara de choro com um beiço que corta o coração. Coisas simples, que antes passava batido (como "Vamos arrumar o quarto"), agora necessitam de todo um modo diferenciado de falar. Pena que escrevendo, me faltam artifícios pra demonstrar o tom de voz, a entonação e o jeito que minhas palavras são ditas nessa fase maguary da crespa.

     Claro que, em certas ocasiões, o lado brabo aparece. Num ensolarado sábado de sol, fomos na casa de um coleguinha de aula da Laura, o Lucas. Os super amigos estavam brincando próximo á uma sacada, com o parapeito baixo. E ali eles resolveram se pendurar. O Gustavo, pai do Lucas, viu a cena e correu até o local, dizendo com voz firme, que eles saíssem dali naquele exato momento, pois era perigoso, etc, etc...
A primeira reação da Laura foi cruzar os braços, armar aquele beiço e falar em alto e bom som:
- Eu NUNCA MAIS venho aqui!
E, se colocando num canto da sala, o lado maguary aflorou. Ela chorou maguadíssima por conta da bronca. em outros tempos,  beiço permaneceria soberano por uns bons 10 ou 15 minutos. Assim, o choro durou menos que 5 minutos e os amigos voltaram a brincar, longe da sacada.

     Na missa de sétimo dia do vô Bruno, ela se comportou exemplarmente. No final de tudo, muitos amigos da família vieram até nós, e ela se encheu o saco de cumprimentar tanta gente. Fechou a cara, armou aquele beiço, franziu a testa e quando alguém lhe perguntava o que tinha acontecido, a resposta estava na ponta da língua:
- Sou braba que nem a minha mãe!

     Nova fase, com características distintas das vividas até agora, mas os "velhos hábitos" aparecem sim. Socorro.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

"Rampiro carpira"

     Eu e a Camila, minha irmã do meio, temos 7 anos de diferença. Portanto, quando eu tinha 12 anos, ela estava caminhando pros seus 5, e era época da Vamp, aquela novela da Globo que fez um baita sucesso. A Camila virou a Natasha (Claudia Ohana) e dizia pra todos que ela era uma "rampira". 
Eu corrigia:
- É vampiro, Camila.
- É RAMPIRO.
Afirmava ela com uma certeza que intimidava o mais letrado dos professores de português. Sempre que ouço a palavra vampiro, me lembro da Camila e quando me dou por conta, estou rindo.

     A Laura tem uma dicção tri boa, desde cedo, e sempre que ela pronuncia uma palavra errada, nós corrigimos. Hoje, na volta da escolinha, passamos num lugar onde havia bandeirinhas de São João penduradas, e ela logo percebeu:
- Olha ali, mãe. Vai ter festa "carpira"aqui?
- Acho que vai. É "caipira, filha.
- Carpira.
- Caipira.
- Foi o que eu disse: carpira
- T'a... então diz "cai".
- Cai.
- Agora "pira".
- Pira.
- Agora junta tudo: caipira.
- Carpira. 
     Comecei a rir com o enrolar da língua que ela fazia pra pronunciar o "carpira", e resolvi fazer uma associação:
- É como "caipirinha", só que tu tiras o "inha" e fica caipira.
- Ai... não vou mais dizer "caipirinha". " Carpirinha" , "carpira" e pronto!

     Pelo jeito a dinda Camila arrumou uma seguidora à altura.

domingo, 7 de junho de 2015

Tchau ao vô Bruno

     Essa semana perdemos o meu sogro. Há anos que a sua saúde não estava bem, e nessa quarta feira ele descansou. A mãe estava com a Laura desde segunda feira, pois o Bruno estava envolvido com o pai no hospital e tinha que trabalhar, e eu estava em aula, na especialização em Porto Alegre.

     Vim o mais rápido que pude, e a Laura continuou com a mãe. Resolvemos, por unanimidade, não a levarmos ao velório nem à cerimônia de cremação. Mas e como contar pra crespa sobre a ausência do vô Bruno?

     Na quinta de tarde, fomos até a casa da minha sogra e, até passarmos pela porta, ela estava feliz da vida por reencontrar os primos. Assim que entramos, a cara dela fechou. Todos vieram cumprimentá-la, mas ela se agarrava na minha perna e escondia o rosto. Perguntou pela vó Lulu e foi em direção ao quarto, onde a vó descansava. A impressão que tivemos foi que ela estava sentindo que havia um clima diferente na casa, algo estranho. Após algum tempo, tudo virou festa.

     Já era noite quando a Márcia (minha cunhada) ligou pro hospital pra avisar que eles haviam esquecido algumas coisas no quarto. Ela foi pra um dos aposentos da casa, a fim de fugir do barulho e poder falar com a enfermeira. No diálogo com ela, a Márcia disse que o seu Bruno havia falecido na quarta feira e tal e coisa e coisa e tal. Quando ela olhou pra trás, viu a Laura na porta, que perguntou:
- Você disse que o vô Bruno faleceu?
A Márcia, sem saber se ela sabia o que era falecer, devolveu a pergunta:
- Eu disse??!
- Sim, ou ouvi você dizendo que o vô Bruno faleceu.
Nisso alguém anuncia que o cachorro quente estava pronto. Mais do que depressa, a Márcia pegou a crespa no colo e desconversou, correndo pra cozinha, fazendo festa. Logo ela nos avisou sobre o episódio, e achamos que a Laura perguntaria algo. Mas não. Ela vinha em nossa direção e esperava que nós contássemos o que estava se passando.

     Na sexta feira, ela brincou muito com os primos, principalmente com o Davi, filho da Mariana, a prima mais velha. Já era noite quando eles brincavam de esconde esconde, e o Davi é mestre na coisa. Chega a ficar 10 minutos escondidos, sem dar um pio, sem que ninguém o encontre. Até eu ajudei a Laura a procurar o Davi. O Bruno me pegou pela mão e disse que queria contar pra Laura. Fomos na direção dela, ele a pegou no colo e descemos pro pátio.
- Queremos conversar contigo, filha.
- Porque? Eu fiz feio?
Aí eu tive que rir, mas esclareci em seguida:
- Não, não! É só uma conversa!

Lá chegando, sentamos sob um céu estrelado, com um calor incomum pra junho e começamos "a conversa".
- Laura, tu lembras que o vô Bruno estava doente, no hospital?
- Sim.
- Pois é, filha, o Papai do céu levou o vô Bruno pra morar lá com ele.
- Mas ele não vai voltar aqui pra visitar a gente?
- Não, filha. Agora ele virou uma estrelinha.

     Olhando pro céu ela respondeu:
- Mas eu não vejo a cara dele!
- Mas agora ele é uma estrela! Então quando tu estiveres com saudades dele, é só procurar pela estrelinha que o vovô se tornou!
     Olhando novamente pro céu, à procura do avô, ela se entusiasma:
-Ali, ali tá o vô Bruno!! Oi, vô Bruno!! Deu, agora eu tenho que procurar o Davi.
     E saiu correndo pra dentro da casa. 
     Ainda deu tempo de falar:
- Pede pro vô Bruno te ajudar a encontrar o Davi!!!
     E ele ajudou. Acho que o Davi estava cansado de ficar encolhido embaixo da mesinha da sala e chamou pela Laurinha.
- Achei o Davi! O vô Bruno me ajudou a achar o Davi. Obrigada, vô!!

     Daquele dia em diante, ela passou a conversar com o vô Bruno diariamente. Dá oi pra estrelinha que ela elegeu como sendo ele, conta as novidades e o leva junto pra brincar.

     Bom seria se todos tivessem o entendimento que a nossa crespa teve em situações como essa.