quinta-feira, 25 de setembro de 2014

"Fica feliz, mãe!"

      A vida adulta faz a gente ficar mais carrancuda, muitas das vezes, sem nos darmos conta disso. Ter uma criança em casa faz com que as carrancas do dia a dia sejam desfeitas, seja pela sua simples presença, pelas frases e tiradas impagáveis que ela tem ou por gestos e atitudes tomadas pra que a cara feia desapareça.

     Quando fico muito tempo séria, por estar concentrada lendo um livro, escrevendo ou simplesmente quieta, a Laura indaga:
- Tá feliz, mãe?
- Sim, filha! Tô feliz!
Estampando um sorriso que vai de orelha á orelha ela pede:
- Então faz feliz, dá um sorriso!

     Semana passada, tossindo muito, a neninha andava reinando por conta de querer ficar com os pés descalços e deixar as canelas á mostra (mania de remangar as calças...). Depois de pedir incontáveis vezes, com muita calma e educação que ela ajeitasse a calça e colocasse um par de meias e os crocks nos pés, dei uns gritos e saí atrás dela pra fazer acontecer. Sentei na escada, comecei a arrumar a calça e colocar as meias, dando aquele discurso materno, e fechando a cara inconscientemente:
- Tem que obedecer a mãe, Laura! Teus pés estão gelados!
Como ela estava em pé, ficou mais alta que eu. Então pegou no meu queixo, me fez erguer a cabeça e segurou nos cantos da minha boca, me forçando a dar um sorriso.
- Fica feliz, mãe!
Não contive o riso, e pra completar, ela apertou minhas bochechas e exclamou:
- Fofinha da Laura!



quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Histórias da Laura VII

Chupeta I
Casa da dinda Ita. A Laura se agarrou numa chupeta ainda na embalagem, de propriedade da pequena Helena, de 6 meses. A chupeta era observada com muita atenção pela neninha. Até que ela anuncia, com uma expressão de "eu sabia que já tinha visto um bico assim antes!!"
- Olha!!! Esse bico é igual ao da Mari Silva!
Todos na sala me olharam com a mesma cara: "E quem é a Mari Silva?"
A própria Laura espondeu a pergunta:
- A  Mari Silva é minha colega da escola, e ela tem um bico igual esse!

Chupeta II
O tal bico igual ao da Mari Silva foi aberto e começou a ser devidamente usado pela sua dona. Chego na casa da dinda Ita pra buscar a Laura no domingo à tardinha e dou de cara com a crespa chupando o bico. Sempre que tem oportunidade, ela faz uso da chupeta alheia. E deu-se início a negociação pra deixar o bico com a Helena e irmos pra casa.
Dinda Ita tenta:
- A Helena chupa bico porque ela ainda não tem dente, Laura.
A Laura responde:
- Eu também não tenho dente.
Eu tento:
- Hi, Laura... menina grande que chupa bico, estraga os dentes.
A Laura responde:
- Mas eu sou nenezinho pequenininho, que nem a Helena!
A Larissa tenta:
- E tu vais deixar a Helena sem bico? Ela vai chorar...
A Laura responde:
- Eu sei que ela tem outro bico, "Lalissa"!
Até que:
- Vamos devolver o bico da Helena filha?
- Tá bom, eu devolvo.
- Quando?
Em tom pensativo, olhando pra cima, apoiando o queixo com uma mão e segurando a chupeta com a outra, ela responde:
- Hum... "teze" horas.

 Depois de rirmos das "treze horas", e dos vários argumentarmos,  a Laura percebeu que essa batalha estava perdida e ela acabaria ficando sem o bico.  A crespa concordou em voltarmos pra casa, sem choro nem manha. Coisa inédita.

Belas   
     Encontramos o Marquinho, amigo do Bruno, descendo as escadarias do nosso prédio (tinha saído do nosso apartamento) e a nossa cachorrinha, a Bella, veio atrás dele. Ele tem uma filha de 3 anos e meio, chamada Isabela, que frequenta a mesma creche que a Laura.
- Oi, Laura! Tudo bem?
- Tudo!
- Olha só quem desceu comigo! A Bella.
Nessa altura da conversa, a peluda já estava na porta do prédio, quando a Laura pergunta pro Marco:
- E a Bela?
- Está ali na porta, esperando pra passear contigo!
- Não! Eu tô falando da tua filha Bela.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Mais Ônus do que Bônus

     O ano de 2014 está repleto de bônus e ônus. Pessoalmente, foi um ano de muitas mudanças, que me fizeram sair totalmente da minha zona de conforto (ônus e bônus, nesse caso a ordem dos fatores não altera o valor do produto). Mudança também no sentido literal da palavra, já que estamos morando na nossa casa (bônus pra mudança e ônus pras dívidas, mas isso passa... uma hora a gente termina de pagar tudo).

     Pro país, de um modo geral, também houve ônus e bônus. Aí entro num terreno perigoso, cheio de minas, pois sei que vários discordarão de mim. Copa do mundo: pra mim, mais ônus do que bônus. Não vou entrar em detalhes pois já escrevi à respeito, inclusive sobre os 7X1 que o Brasil levou da Alemanha (prost!!!!!). Mas o que me motivou a escrever hoje foi a eleição que está prestes a sair. 

     Ao meu ver, só ônus. E um ônus daqueles gigantes. Acho o Brasil um lugar fantástico, de belezas naturais exuberantes, que tem um povo alegre, receptivo e que vota mal, muito mal. Consequência disso é essa política podre, que me envergonha. Esses dias participei de uma palestra onde se falou que tudo na vida tem relação com o inconsciente coletivo. A palestrante citou a política brasileira como exemplo. Pode ser... mas a culpa é de quem vota nesse tipo de governantes. Não estou dizendo que só existe político corrupto e sem vergonha no país. Tem gente boa por aí, mas estão sendo engolidos pela corja maior. Fica impossível separar o joio do trigo. Em ano eleitoral, pouco vale querer eleger alguém honesto, sério, de princípios e valores concretos. 

     Me considero apolítica e tenho consciência que pago o pato por isso. Pouco vi do horário eleitoral político, pois sinto vergonha alheia e acho que mentir é feio. Por melhor que sejam as intensões (de uma minoria insignificante, aos meus olhos) sinceramente não acredito que nenhum candidato possa dar jeito nesse país. A maracutaia é parte da cultura nacional. A propina e o interesse próprio estão embutidos quando o assunto é o poder público.

      Não apoio Marina, Aécio, Dilma, Luciana. Ana Amélia, Tarso... muito menos Tiririca, Maluf ou seja lá quem estiver se candidatando aos cargos nesse próximo pleito. Meu voto não mudará em nada a situação triste e vergonhosa que desde sempre assola o Brasil. Sabem porquê? Por que não faço parte do inconsciente coletivo. Por que não vendo meu voto por uma churrascada com chopp liberado. Por que acredito que político não deveria receber um centavo, uma regalia se quer. Simplesmente por que sou do contra e por que não acredito no sentimento altruísta de candidato nenhum. 

     É muito ônus. Vou continuar pagando essa exorbitância de impostos e não ver meu suado dinheirinho sendo aplicado em nada que preste. Vou continuar precisando de plano de saúde por não poder contar com o Sistema de Saúde deficitário que meu país oferece. Vou continuar tendo que engolir cotas raciais, de renda, disso e daquilo. Perdi a esperança de que isso mude algum dia. Cada vez me convenço mais que o povo tem o governo que merece, por isso, a tendência é piorar. Pobre de quem elege essa gente. Pobre de quem tem que ser governado por essa gente (me incluo no bolo, triste por não poder fazer nada). Pobre da Laura que vai continuar a viver num país corrupto quando for adulta. 

 


terça-feira, 16 de setembro de 2014

O primeiro sagu

     Sou fã de sagu, desde que me conheço por gente. O melhor do mundo é feito pela minha mãe, mas aprecio a iguaria em todos os lugares onde sei que ele é feito com vinho de verdade. O único sagu que não é feito com vinho e mesmo assim é uma delícia, também é feito pela mãe, e vai carambola junto, cortada como estrelas. Esse pra mim tem gosto de infância.

     O sagu faz parte da minha infância e da dos meus irmãos também. Lembro que certa vez, quando a Camila, minha irmã, tinha poucos meses de vida (uns 6, 7...), ela ficou sob os cuidados meus e do pai. E nós demos umas colheradinhas de sagu pra ela.  Instantes depois, a pobre criança começou a ficar inquieta, choramingar... até que saiu uma bolinha de sagu por cada narina dela. Coitadinha! E mesmo assim ela segue gostando de sagu até hoje.

     Adoro um sagu, mas nunca tinha me atrevido a fazer. Já escutei histórias engraçadas sobre a confecção do doce, de gente que ficou sem panela em casa, pois exagerou na quantidade das bolinhas e o doce foi proliferando, proliferando... ou de que aconteceu alguma coisa durante o preparo que deixou uma montoeira de bolinhas grudadas. Por essas e por outras, sempre fiquei com o pé atrás em fazer sagu.

     A Laura está com uma gripe bem forte, uma tosse mais forte e xarope ainda, e passou o dia em casa comigo, bem amuada, sem querer comer nada a não ser sagu. Como negar o pedido de uma filha gripada? Fui pra cozinha e fiz o primeiro sagu da vida. Fiz pouca quantidade por medo de errar. 

     Ficou muito bom! A consistência das bolinhas, a quantidade de açúcar e especiarias (canela e cravo) ficaram dignos de programa de culinária. Não sobrou nada pra contar a história. 

    Hoje, nossa crespa já voltou à rotina normal e assim que retornou da creche, me pediu que fizesse mais sagu. Ok! E o melhor é que ela ficou ao meu lado durante todo o processo, dizendo que queria aprender como se faz.  Dessa vez fiz uma quantidade maior pra que todos possam se deliciar com o meu sagu.  "Mazá"!!!

   
Bolinhas de molho, vinho fervendo e o olhar atento da Laura

Sorriso pra foto, Laura.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Histórias da Laura VI

Obediência 
Estávamos eu e o Bruno jantando, e a Laura brincando com suas bonecas na sala, sendo observada por nós. A brincadeira constava em  coordenar a vida das bonecas (quem dormia, quem ia pro "pensamento", quem comia...) com o tom autoritário que lhe é de costume, quando eu virei o alvo.
- Mãe, senta aqui comigo, pega a Tati no colo e faz ela dormir.
- Eu e o papai estamos jantando, Laura.
Ela deu uma respirada funda (estilo "bufandersom"... sabem como é?)
- Mas mãe...
- Depois que nós terminarmos de comer eu vou brincar contigo. Tá bem?
O ar de seriedade tomou conta do rosto da crespa, e ela anunciou:
- Olha que eu vou chamar a Miti.
- Por que chamar a Miti?
- Porque tu não tá obedecendo!
- Mas quem tem que obedecer é a Laura! Os filhos obedecem os pais... Tu não és nossa filha?
- Não. Eu sou  a "pofe" de vocês, e vocês tem que me obedecer.

Férias
. Nas férias de julho da creche, a neninha passou uns dias em Santo Ângelo na casa d vô G e da vó Mari. Esta, por sua vez, tem o lado doce de vovó, mas pega firme quando a Laura coloca as manguinhas de fora. Certo dia, ela teimou que não queria sair do carro. Pois a vó lhe avisou que ali quem mandava era ela (a vó) e que a Laura tinha que obedecer. Como resposta, a crespa fechou a cara, respirou fundo (estilo "bufandersom" de novo) e disse:
- Não venho mais passar férias aqui...

"Passarico"
Festividades do mês farroupilha na creche. Entusiasmada, a Laura sai da aula e me conta, eufórica:
- Tu não acredita que música eu dancei hoje na escola.
E saiu rodopiando e cantando:
- Passarico, passarico, passarico do banhado...
O "passarico" foi incorporado de tal forma aqui em casa que chegamos a esquecer como é mesmo a música original.

Senhor e senhora
Em conversa com a vó Lulu:
- Vó, tu sabe... opa, senhora. Pessoas velhas a gente chama de senhor e senhora.
A vó Lulu ficou impressionada com o tratamento e perguntou quem tinha ensinado isso à Laura. Ela não respondeu, mas continuou a se referir ao vô Bruno e à vó Lulu como senhor e senhora.

Joaquim
Estávamos indo embora da casa do Vô Bruno, já no carro, quando a Vó Lulu mostrou a Pipa (poodle da casa) na porta da casa e disse:
- Olha lá a Pipa, Laura. Ela fica esperando a vó entrar em casa bem quietinha, na porta, com aquela perna torta dela (quebrada quando ela era ainda bem novinha...).
A Laura disse, com sabedoria de causa:
- Igual ao Joaquim!
Ficamos nos perguntando que Joaquim era aquele mencionado pela crespa. Aí ela nos esclareceu:
- O Joaquim da música! Seu Joaquim, quim, quim, da perna torta, ta, dançando valsa, sa, com a Maricota, ta!

sábado, 13 de setembro de 2014

Socializar agora é assim?

     Acabei de chegar do show do Suricato, na TAO.  Dos caras só tenho a dizer que são artistas de primeira qualidade. Excelente trabalho. De cair o queixo os arranjos e o repertório. Do público, tenho umas considerações à fazer. 

     Não frequento mais festas, baladas e afins como antes. E a última que eu fui, esses dias, tratava-se de uma festa dos anos 80, então só tinha pessoal mais velho que eu ou no máximo da mesma idade. Os smart phones até eram vistos nas mãos de alguns quarentões (ou quase), mas com dois objetivos principais: tirar fotos para a posteridade e checar a existência de alguma chamada perdida, já que os filhos ficaram com os avós, as dindas e por aí vai. Hoje, passei boa parte do show com um pessoal que beira os quarenta também, e os celulares foram utilizados com as mesmas finalidades acima citadas, inclusive por mim.

     Antes do show começar percebi que a maioria da gurizada estava mexendo no celular. Não conversavam entre si, pensei cá comigo que deviam estar se falando via whatsapp, mesmo estando uns em frente aos outros. Durante o show, eles filmaram tudo, sem se mexerem muito, pois em seguida já postavam os vídeos nas redes sociais. Fotos? Montoeiras, compartilhadas no exato momento em que o flash disparava. Um casal de namorados que estava perto de mim, mal se olhou a noite toda, cada um mexendo no seu respectivo telefone.

     O que é mais importante? Curtir um baita show como esse, sentir os pelinhos do braço se arrepiarem quando uma música te toca e te emociona. No outro dia contar aos amigos (ao vivo, à cores e "se mexendo", de preferência) como foi legal ter presenciado um momento desses. Lembrar das sensações de ter presenciado tudo aquilo... 

     Ou

      Filmar tudo, tirar fotos (selfies, que estão em alta, com direito à beicinho e cabeleira jogada ao leo...), ficar postando tudo o que se passa e conferindo cada notificação que chega pra ver quantos amigos "curtiram" ou comentaram o que foi publicado. Consequentemente deixar de curtir a noite com os amigos, nem saber o que os músicos estão cantando ou tocando e ficar o tempo todo com o celular a tira colo, postando até o churrasquinho de gato que se come no final da festa.

     E aí?

     Posso estar parecendo ultrapassada (e acho que sim, ando meio por fora do que acontece na vida noturna), mas desde que me conheço por gente, o modo que as pessoas socializam quando saem de noite é por meio de conversa, risos, dança, tomando uma gelada . Desse jeito, parecendo um bando de robôs, sem largar o celular... nunca tinha visto.

     Sim, tirei foto com os bonitões, mas com o celular do Bruno. E amanhã, ou segunda ou terça... vou ver como ficou. Pode ser que poste a foto, mas na hora, preferi elogiar o trabalho da banda e deixar meu marido fazer o seu trabalho do que ficar xaropiando pra ele me mandar a foto na hora, porque eu preciso que o mundo saiba o que eu fiz na noite de sábado.

     Sou chegada num computador, adoro fuçar no telefone, mas tudo tem hora. A não ser que as coisas tenham mudado tanto e eu não tô sabendo. 

     Será...? 

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Frase de efeito

     Na segunda feira, a Laura "matou" aula no período da manhã pra ficar com a vó Lulu e almoçar com ela. A vovó deixou-a na creche depois do meio dia e à tardinha, como sempre, fui buscá-la. Tudo transcorria normalmente: ela veio feliz e contente na minha direção quando me viu na porta da escola, fomos em direção ao carro conversando, coloquei-a no cadeirão, afivelei os cintos, dei partida do carro e, depois de andarmos umas duas quadras, gratuitamente, ela disse, com a cara fechada:

- Eu não gosto de ti, mãe. Só gosto do papai e da vó Lulu.
Me caiu os butiás do bolso. 
- Ah... não gostas de mim?
- Não!
- Tudo bem, então.

     Só consegui responder isso. Olhei pelo retrovisor e vi que ela fechou os olhos, dormindo em seguida.
Fui até em casa pensando sobre o ocorrido. "Mas que desaforo! E pensar que eu faço de tudo por ela... pra escutar ISSO!?" . "Ela não deve estar falando sério... mas e a troco de que me vem com essa conversa agora?" . E continuei com a mente fervilhando depois do comentário da neninha. 

     Cheguei em casa e tive que desabafar com o Bruno. Liguei pra ele e contei sobre a frase fatídica.
- Ah, Deia... por favor! ... E tu acreditou no que ela disse? 
- Mas Bruno...
- Tu tá sendo mais criança que ela! Pai e mãe sempre serão os carrascos. Na casa dos avós tudo é festa, sempre!

     Nem alimentei a conversa lembrando ele da frase completa: "Só gosto do papai  e da vó Lulu.". Depois de uns 20 minutos ela acordou e me tratou normalmente, como se nunca tivesse dito nada daquilo. Vida que segue.

     Sei que em se tratando de maternidade, não devemos esperar nada em troca,que o amor materno é incondicional, etc, etc... já fui devidamente avisada que escutarei certos "eu te odeio!!!" pelos próximos anos.  Mas isso é como o primeiro sutiã: o primeiro a gente nunca esquece. O primeiro " eu não gosto de ti, mãe." eu não hei de esquecer tão cedo.


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Os vilões da infância merecem o nosso respeito

     Estava eu lendo alguns artigos, textos e coisas afins sobre o episódio de racismo ocorrido na última semana aqui no RS, quando me deparei com o excelente texto da Eliane Brum (segue link abaixo), que acabou por me motivar a escrever sobre o assunto que trata o texto, e deixei a questão do racismo pra depois.


http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI142334-15230,00-SACI+SEM+CACHIMBO+LOBO+SEM+DENTES+E+GENTE+SEM+PENSAMENTO.html

     Não sou expert no assunto, mas como mãe, por vezes me pergunto se deixar de atirar o pau no gato ou transformar o lobo mau em um ser vegetariano irá ajudar a tornar minha filha politicamente correta. E, sinceramente, concluí que fábulas, lendas, histórias da carochinha e musicas fazem parte da infância. Deixem os vilões serem vilões e ponto final!
 
     Me criei vendo o saci pulando num pé só e pitando seu cachimbo, mas nem por isso desmereço deficientes físicos e nem virei fumante  - detalhe: nos meus áureos tempos de infância, meu pai guardava um cachimbo e uma caixinha com fumo, na despensa, bem escondido, que eu adorava cheirar quando me via sozinha, podendo explorar a casa. Nunca taquei fogo no fumo nem nada disso.  E o saci nem é considerado um vilão, mas sim um trickster (vide link acima, vale demais a leitura).
 
     Sou madrasta da Luiza. E qual é o problema em me chamarem assim?? Só porque a madrasta da Cinderela era uma jararaca, mal amada, todas tem que ser também? E não me venham dizer: " Ah, ela é ´boadrasta` e não `má drasta`". Sou gente boa, trato minha enteada com todo amor e carinho, mas sou sua madrasta.
 
     Cresci cantando  "Atirei o pau no gato", e nem por isso saio atirando o pau no gato! Desculpem a redundância, mas não achei melhor maneira de me expressar.
 
 
     Vamos nos ocupar em passar valores sólidos às nossas crianças. Deixem as bruxas fazerem suas maldades, o lobo comer vovozinha e destruir as casas assoprando a plenos pulmões a fim de degustar um porquinho (ou dois, ou três...). Conflitos sempre existirão, e as histórias infantis, fábulas, etc... estão aí pra introduzir os pequenos no mundo, que é bom mas também pode ser bem cruel. 



segunda-feira, 1 de setembro de 2014

"Eu não sou mais nenê..."

Sinais de que não se tem mais bebê em casa:
- Seu(a)  filho(a)não chupa mais bico (chupeta).
- O consumo de fraldas descartáveis diminui drasticamente (1 pacote dura quase 1 mês, já que a Laura só usa fraldas pra dormir). Assim, a gaveta da cômoda em que antes ficavam as fraldas, hoje comportam outras coisas (rabicós de cabelo, tiaras, tic tacs, o que eu chamo de bebéis...).
- O cadeirão de comer fica sendo artigo obsoleto em casa, pois a criança prefere sentar numa cadeira normal pra comer.
- O trocador da cômoda serve agora pra guardar livros e lápis de cor, caixa de giz de cera...
- A criança se veste sozinha (incluindo roupas íntimas, sapatos...).
- A escova de cabelo deixa de ser vilã e passa a ser amiga querida, no caso das meninas.
- Quando seu(a) filho(a) avisa que vai ao banheiro de casa (e não pede pra ser levado(a)) e tu só supervisionas o uso do papel higiênico, quando muito... (isso no caso de meninas, de guris não entendo como funciona a mira do pingolim...)
- Ou quando seu(a) filho(a) dá sinais de total independência, tais como:


     Comentei com a Laura que temos que comprar outro creme dental pra ela, pois o atual está no fim. Aí ela me sai com essa:
- Pasta de dente da Monster Hight?
- Porque da Monster Hight, filha? (Até onde eu sabia, meninas de 7,8 anos gostam das Monster Hight... não as de menos de 3 anos...).
- Eu adoro a Monster Hight! Eu sou menina grande, mãe!

     Há mais ou menos um mês a Laura sai do banho sozinha, eu "avalio" se ela se secou totalmente e auxilio o processo, já que ela não alcança a toalha, que fica no suporte muito alto pra ela (por enquanto).  Venho coordenando a hora da saída do banho, mas ontem, com as madeixas molhadas, minha única ação foi alcançar a toalha pra ela. Comentei que ela só precisava de ajuda pra tirar o excesso de água dos cabelos. Assim que disse isso, ela abaixou a cabeça e começou a esfregar a toalha nos cabelos, enrolando a mesma quando os fios pararam de pingar; exatamente como eu faço. 
-Assim, né mãe?
- Ahã, assim mesmo...
Respondi impressionada com a semelhança nos gestos.
E me olhando no fundo dos olhos, completou, colocando as mãos na cintura:
- Eu não sou mais nenê...

Agora a crespa se penteia sozinha.

:)