terça-feira, 7 de junho de 2016

A mãe imperfeita e suas consequências.

     Eu e o Bruno conversamos bastante sobre a criação da Laura: limites, valores, ensinamentos, castigos... concordamos em quase tudo, e onde há discórdia, sempre há mais diálogo, até chegarmos em uma solução.

     Há um ponto que eu discordo dele e que frequentemente vem á pauta. Ele sempre diz que um dos dois deve ser o "mau' da história; e que ele não se importa de ser aquele que puxa a frente na hora dos corretivos que envolvam cantinho do pensamento, conversas mais severas e coisas afins. Como quem diz: eu sou o pulso firme, e tu és a manteiga derretida.  

     Não me acho manteiga nada derretida. Sou firme, não me deixo levar por uma carinha triste e quando tenho que tomar alguma atitude mais enérgica, por vezes me pego pensando se não estou sendo muito dura com a Laura.

     Meu pavio é curto, mas procuro alongá-lo e, modéstia á parte, tenho conseguido uns bons metros com o passar do tempo, mas confesso que ás vezes perco as estribeiras e dou meus pitis aqui em casa.  

     Semana passada, depois de pedir calmamente umas 6, 7 vezes que a Laura se sentasse pra tomar seu café da manhã,  me "exaltei" e soltei uns gritos:
-  Café, Laura. Café da manhã!! Quantas vezes mais eu preciso pedir pra tu ires tomar teu café da manhã????!!!

     Ela me olhou com a cara mais séria dos últimos tempos e calmamente (muito calmamente) sentou-se na cadeira e começou a morder o pão com ghee e melado que estava preparado há mais de 20 minutos. A calma dela parecia uma afronta, mas deixei quieto e segui me arrumando, pois precisava estar no consultório em pouco tempo.

     Pra completar, o Bruno (bem mais calmo que eu, e com o tom de voz normal), reforça:
- Filha, vamos logo com esse café. A gente precisa sair logo!

     Voltei do quarto, pronta, e encontrei a Laura mexendo com a colher na xícara de chá, com um olhar de desdém.
- Terminou o café?
Revirando os olhos, ela respondeu que sim.
- Ótimo. Vamos indo então. Temos que escovar teus dentes ainda...

     Nesse momento, me caiu os butiás do bolso, o queixo do rosto e o ** da bunda com o que ela disse:

- Não vejo a hora de crescer bem rápido, pra não ter que morar mais com o pai e a mãe.
- Como assim? Porque isso agora??
- Porque a mãe só grita comigo, o pai só grita comigo e a Bella só late pra mim.

     Me deu vontade de gargalhar alto, mais alto do que os gritos que eu dei com ela. Mas me contive. A Bella estava deitada, dormindo e roncando, como de costume. 

      No piquenique da bergamota, depois do almoço (que se tornou quase diário...), com os ânimos acalmados, puxei o assunto:
- Então tu queres crescer logo pra morar sem eu e o pai?
- Sim.
- Tá bom então. E tu vais morar aonde?
- Não sei... o que tu acha mãe?
- Porto Alegre?
- Não sei... pensei em morar aqui em Santa Rosa mesmo.
- Filha, vou te dizer uma coisa: tu estás crescendo bem rápido sim. Mais rápido do que tu imaginas.
E ela complementou:
- Mais rápido do que TU imagina, mãe!

     Verdade.
     Depois dessas tiradas dela,  me passaram mil e quinhentos pensamentos na cabeça, e quero que ela saiba disso. 

     Então, segue mais uma carta pra ti, Laura:

Filha

Itens importantes sobre crescer e se livrar dos pais:


* A gente cria os filhos pro mundo, e não pra ficarem debaixo da nossa saia. Quero ser uma mãe desnecessária quando  tu ficares adulta (aquele texto que rola na Internet e que até já comentei dele aqui...), mas que tu jamais penses que isso seja desamor. Ganhe o mundo! Viaje, conheça lugares e pessoas sensacionais. Se sentires saudades, vem que te acolheremos de braços abertos, mas não espere que eu diga pra ficares "perto de casa". Se o destino for esse, ótimo! Mas se não for... estarei sempre com a mala pronta pra te visitar ao redor desse mundão.

*  Não existe mãe perfeita, Laura. Temos boas intenções, mas somos humanas e vamos acabar errando uma vez, duas vezes... outras tantas.
 Adoro quando ouço de ti:
- Tu é a melhor mãe que eu já tive!
Que bom!!! Mesmo eu dando meus gritos de vez em quando, tu me consideras boa mãe, a melhor. Vai chegar o dia que serei a pior. E essa história de crescer rápido, torna esse dia ainda mais próximo. 

* "Tu só vais me dar valor quando eu não estiver mais perto."
 Tenho que fazer um pouco de drama, pois isso faz parte do universo feminino, filha! Se sobrou até pra Bella os latidos que ela não dá...
A "frase de efeito" aí de cima vai servir pra quando tu fores adolescente, adulta jovem e finalmente (segundo a tua vontade) estiveres morando sozinha. Primeiro vem a saudade física, depois das mordomias que se tinha em casa (tudo limpinho, roupa cheirosa, comida gostosa...). Mas tenho a impressão que tu vais tirar de letra essas coisas.

Enfim... se eu pudesse dar um "pause" no tempo pra te deixar pequena, pode estar certa que eu faria, Mas como não dá, o melhor é tu obedeceres, aí os gritos serão bem raros. 

Te amo!
Mãe Dea



sexta-feira, 3 de junho de 2016

Sobre felicidade (piquenique da bergamota)

Uma história real sobre o que é felicidade pra Família TurraSala.

   Ontem foi o primeiro em vários dias (mais de uma semana) que o sol deu as caras por aqui. Terminamos o almoço ás 12:15 e tivemos uma brilhante ideia: comer bergamotas no sol com a Laura, enquanto o relógio nos permitia. O Bruno é campeão em procurar pés de bergamota pela cidade; e foi o que fizemos. Percorremos as ruas dos bairros próximos á creche da Laura em busca de algumas bergamotas bem doces. Ao encontrarmos um pé carregado numa calçada, o Bruno se encarregou de trepar na bergamoteira e colher várias, pra alegria da Laura, que acompanhava tudo atentamente de dentro do carro.

    Nos acomodamos a 2 quadras da escola da crespa, onde passa os trilhos do trem e onde há bastante grama e árvores.  Estendemos o tapete do porta malas no chão, o Bruno colocou David Matthew's Band pra tocar no som do carro, deixamos as portas abertas e sentamos pra saborearmos as bergamotas (muito doces) ao sol.  Ao olhar pro lado, o Bruno viu uma bergamoteira enorme há poucos passos de onde estávamos sentados. Lá se foi ele colher mais algumas frutas.

   E ali ficamos os três; deitados na grama, comendo bergamotas, conversando, curtindo aquele sol maravilhoso e uma boa música. Agradeci imensamente por aquele momento. Felicidade são esses breves momentos que conseguimos desfrutar das coisas mais simples da vida. Tenho certeza que esse também foi o pensamento da Laura e do Bruno naqueles instantes.

     Depois de ajeitarmos tudo e seguirmos em direção a escola, a Laura disse:
- Vamos fazer mais vezes o piquenique da bergamota? tava muito bom!

     Verdade, filha. Repetiremos. Que baita programa.
Piquenique de bergamota.

Gratidão por momentos como estes,

Bem vindo, sol!

Oba!! Mais bergas!