quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Livros

     O Felipe Basso, meu colega de segundo grau (sim, sou do tempo do segundo grau...), postou um link de um blog no Facebook hoje que me inspirou a escrever sobre os livros. O título do post de cara me chamou a atenção: "Os livros são os meus sapatos". 

     A analogia é perfeita e se aplica pra mim como um par de sapatos 34. O meu prazer em consumir literatura se assemelha ao de muitas mulheres em comprar sapatos. Não sou uma mulher consumista, que digam os que convivem comigo. Tenho pares de sapato que passam de 10 anos e roupas de quando eu entrei na faculdade. Sou avessa à modismos, de tão básica, jamais peguei uma blusa de mil novecentos e antigamente (que ainda mora no meu guarda roupas) e penso: "Como tive coragem de usar isso?". No garimpo anual do roupeiro, a frase que eu mais digo é: "Madona! Que legal ainda ter essa roupa! Vou voltar a usar ela!" 

      Não me lembro da última vez que me apaixonei por algum item de vestuário e "tive" que comprar pra satisfazer meu ego. Mas se tem uma coisa que eu gosto mesmo, é de sair de uma feira do livro, de um sebo ou de uma livraria com pelo menos um exemplar na sacola, ansiosa por me atirar no sofá e devorar a historia que me aguarda. Adoro livros. Fico horas em livrarias fuçando em prateleiras, respiro fundo quando abro um livro novo (é um dos meus cheiros prediletos). Livros despertam o meu lado consumista. 

     No criado mudo do meu lado da cama, sempre tem um ou mais livros. Todas as noites leio pra Laura, e leio pra mim também. Os armários de casa estão com as prateleiras pesadas de tantos livros. Na casa dos meus pais, volta e meia foleio outros tantos que eu li e reli na adolescência e quando ainda morava lá.

     Na última prateleira da biblioteca da casa dos Turra, estão todas as coleções infantis que eu e os meus irmãos ganhamos na nossa infância. Me lembro da minha alegria quando o pai chegava em casa do trabalho com aquelas caixas de livros. O bom é que vinham em coleções; e estão todas lá, esperando os leitores mirins da família que aí estão e que ainda virão.  A Laura já se familiarizou com a prateleira e faço votos que ela tenha prazer em ler todos os exemplares que lá se encontram, assim como nós lemos.

     Não preciso de roupas de marcas nem sapatos lindos que me dão bolhas nos pés. O que eu quero mesmo é ter um biblioteca em casa.  

PS: vai aí uma dica do livros mais legal que eu li esse ano: A sombra do Vento do Carlos Ruiz Zafón. 
Livros: paixão que passa de mãe pra filha.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Pingu

     O Pingu, personagem da série que leva o mesmo nome, é o ídolo da Laura. Desde fevereiro, quando mostramos um DVD do pinguinzinho pra ela, a neninha virou fã. 

     Trata-se de uma animação bem legal, feita de massinha de modelar, que antigamente passava na TV Cultura.   É um desenho (não sei se posso classificar como desenho, mas...) lúdico, educativo e engraçado, que mostra situações vivenciadas pelas crianças no dia a dia, como pro exemplo, o ciúmes com a chegada da irmãzinha (a Pinga), como os amigos se ajudam, a frustração de quando uma brincadeira não funciona como eles querem e o mais interessante, tudo isso sem diálogo. Sem diálogo que a gente entenda. Tudo é falado em uma linguagem incompreensível em qualquer idioma; a não ser o nome do Pingu e da Pinga. 

     Lá em casa, todos adoram assistir o Pingu. Várias vezes paramos o que estamos fazendo e ficamos curtindo as aventuras do Pingu com a Laura. Agora que ela fala tudo, é muito legal vê-la narrando as historinhas, contando o que está acontecendo.
É uma simpatia esse Pingu! Nuc, nuc!!!!
      Ontem, depois do ritual banho, janta e brincadeiras noturnas,  ficamos os quatro no sofá (a Bella sempre junto...), devidamente protegidos do frio com um baita cobertor e a estufa ligada.

     A Laura começou a pedir:
- A Lala qué Pingu. A Lala qué Pingu.

     Como o detentor do controle remoto da noite era o Bruno e por estar assistindo a um jogo qualquer pouco deu bola pro pedido da Neninha, ela se virou pra ele, bem séria e disse:

-Pai, chega. Agoia Pingu, tá?

     Quem resiste?

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Conversar? Não deu tempo.

     O mês de agosto de 2013 entrou pra história da família Turra Sala como o mais intenso de todos os meses de todos os nossos anos como família. Entenderam? Aconteceram muitas coisas do dia primeiro até agora (26) e, sinceramente, estou aguardando ansiosamente  a chegada do dia 31.

     Ficamos sabendo da vinda da Luiza de última hora, ainda em julho. Por isso já sabíamos que a rotina da casa em função dela mudaria durante a sua estadia. Tudo devidamente programado com o Bruno, que ficou no encargo de buscá-la e levá-la a São Paulo, já que eu teria que trabalhar.

     Aí vem a história dos amendoins, que promoveu uma desestrutura imensa na nossa vida. Eu e o Bruno pouco conversamos durante aquela semana. O assunto girava em torno do estado da Laura, eram boletins médicos que eu relatava pra ele, no mais, tudo ficou em segundo plano.

     A vinda pra Santa Rosa, depois do episódio dos amendoins foi cansativa. Estávamos os quatro no carro: eu, a Laura, o Bruno e a Luiza. Devido ao cansaço, não trocamos meia dúzia de palavras. Só a Laura e a Luiza brincaram no tempo em que ficaram acordadas. 

     Nas semanas que seguiram, trabalhei dobrado pra colocar em ordem o consultório,  tendo que dividir o tempo com a Laura (como sempre) e com a Luiza. O Bruno se dividiu entre o boliche, a Tao e curtiu bastante e Luiza. Por isso também, eu e ele pouco conversávamos. Ou estávamos assistindo filme com a Luiza, ou brincando com a Laura, ou jogando Knet com as duas... (sei lá se é assim que se escreve isso, mas mer efiro àquele video game que usa o corpo pra jogar, sem joystick nem nada). 

     Semana passada, fiquei sozinha até sexta, quando nos encontramos novamente. Na quinta, o Bruno foi á São Paulo levar a Luiza. Durante a formatura da Gabi, fizemos festa e mais festa. Estava tudo muito divertido e aproveitamos pra dançar e rir muito. Conversar? Não deu tempo.

     No sábado á tarde, quando estávamos voltando pra Santo Ângelo pra irmos no casamento da Paola,  perguntei pro Bruno: 
- E aí, como é que tu tá?
A resposta veio em forma de outra pergunta:
- Tu percebeu que a gente não conversou ainda esse mês?
 
     Não sou daquelas que pregam que o casal deve ter uma "DR" por semana pra deixar a vida conjugal em ordem, mas sempre é bom e necessário manter o diálogo.  

     Então, depois de vinte e tantos dias de atribulações, viagens, preocupação, cansaço, correrias... eu e o meu excelentíssimo marido tivemos uma longa e prazerosa  conversa. Espero que os 4 meses restantes desse ano sejam mais calmos, e que os próximos agostos também.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Mini férias de mãe

    Evento familiar na sexta feira em Santa Maria: formatura de enfermagem da Gabi. Semana passada o Bruno disse que ele, a Luiza e meus sogros iriam pra lá já na terça feira (ontem), e me perguntou se eu poderia ir junto. Respondei que sem chances, pois estava com uma semana de atraso no consultório, por causa do episódio do amendoim da Laura e precisava deixar as manutenções de orto dos pacientes em dia.... enfim, disse que iria na sexta feira, como planejado. Aí ele disse:

-Então a Laura vai conosco e a gente se encontra lá na sexta.

     Confesso que não fui a mãe mais feliz do mundo em concordar com a ideia. Até larguei um "Nem pensar!!!" como primeiro impulso, mas depois parei e pensei: A Laura vai comigo à Santo Ângelo todo domingo e volta na terça, desde os 5 meses, sem objeção nenhuma do Bruno. Não me custa deixá-la curtir as tias e primos por uns poucos dias, até porque em 3 dias nos veremos novamente.

     Trabalhei a decisão na minha cabeça durante todos esses dias e ontem o pessoal passou em Santo Ângelo pra buscá-la. Expliquei que ela viajaria com o papai e pedi que se comportasse. Foi bem faceira, me dando tchau e achando tudo divertido. Voltei pra Santa Rosa sem escutar DVD infantil no carro e sem cantar as músicas que ela gosta. 

     Quando cheguei em Santa Rosa, larguei minha pequena mala em casa,  a Angélica me entregou a lista das coisas que eu tinha que comprar no supermercado e pensei: "E depois do mercado, o que vou fazer?".
Liguei pra Fer Guidini e fui com ela buscar o Artur na escola. Conheci as dependências do Dom Bosco e percebi que a jornada escolar da Laura será longa, estamos só no início de tudo. Depois fui pra casa dela e do Kéko. Eles me apresentaram o Tom, coelho de estimação da família. Fiquei lé de papo, fui no mercado e voltei pra casa lá pelas 19:30. 

     Fora da minha rotina habitual, liguei a TV no GNT, me atirei no sofá com a Bella, sem ter que dividir a atenção da peluda com a Laura, ajeitar banho, janta, escovar os dentes, contar historinha, catar o nana e o bico pela casa... comi alguma coisa e tomei um latão de cerveja que achei na geladeira. Assisti o Boas Vindas, chorei litros, muito mais do que o habitual quando assisto a esse programa; efeito do latão de cerveja.  

     Fui pra cama cedo, li meu livro e dormi. Não sem antes falar com a minha pequena pelo celular. Obviamente ela está feliz da vida, curtindo tudo e todos por lá. Acordei hoje de manhã pensando estar escutando o corriqueiro: "Manhê, fasse mamá!". Mas foi coisa da minha cabeça. 

      Já me perguntaram como eu pude deixá-la viajar sem mim. Resposta: Sou mãe da Laura, não sua dona. A neninha não é minha propriedade. 

    Eu? Com saudades dela, lógico!!! Mas gostando de ficar de pernas pro ar em casa e não tropeçar em brinquedos pela sala por uns poucos dias. Sexta feira está logo aí. então vou poder afofar e beijas aquelas bochechas de novo.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Tempo

     Em datas com a de hoje, eu paro e penso em como o tempo passa rápido. Hoje faz 10 anos que me formei. Aí me vem na cabeça o dia da formatura: o frio que fazia, em como foi legal entrar naquele ginasião gelado com meus colegas e em como fiquei me sentindo triste no baile, pois sabia que tudo tinha acabado. Parece que foi ontem. 

     Essa semana, em santo Ângelo, fui procurar minha profe de piano, a fim de retomar as aulas e tirar a ferrugem do meu velho piano de apartamento. Quando estávamos acertando os detalhes das aulas (recomeço semana que vem) chegou uma senhora, também ex aluna. Aí a profe comentou com ela:

- Essa moça foi minha aluna há 20 anos atrás, e vai voltar a fazer aulas de piano. Olha que legal!


     20 anos??? Me caiu os butiás do bolso. Fiz o cálculo e concluí que a profe Íria é boa de conta.  Depois dessa, fui mexer nas minhas agendas da adolescência. Sim, sou do tempo das agendas. Registrava tudo diariamente, algumas coisas em códigos, pra ninguém descobrir o que eu tinha escrito. Achei papel de bala, caixinha de batata frita do Mc Donalds e pasmem, até uma fita K7 colada numa quinta feira.

      Que saudades do tempo em que o meu único trabalho era estudar pras provas do colégio (e ainda conseguia tirar nota baixa em certas matérias...). Há 20 anos atrás, um pouco mais, minha principal preocupação era convencer a mãe e o pai que eu precisava ir na boate do Gaúcho no final de semana (perdão aos que desconhecem as festas inesquecíveis do Clube Gaúcho) 

     Há 15 anos atrás, estudava Odontologia em Torres. Sempre digo que era feliz e sabia. Estudei muito e fiz muita festa também. A melhor época do início da vida de adulta. Ainda dependia financeiramente do pai e da mãe, não precisava me preocupar em ganhar dinheiro e tinha a ilusão que poderia salvar o mundo das cáries quando me formasse. Quanta ingenuidade...

     Há 10 anos atrás, virei gente grande (não no sentido literal da palavra, obviamente...). Vieram as responsabilidades e suas agruras. Descobri que ralar faz parte da vida. Mas tenho sorte de ter gente boa ao meu lado. Viajei, casei, me tornei mãe. O bônus foi grande! 

     Sei que o tempo vai continuar passando rapidamente. Por isso tenho que aproveitar todos os momentos com a Laura pequena, antes de vê-la grande, independente e ganhando o mundo. Tenho que aproveitar o tempo com o Bruno enquanto temos saúde pra viajar, curtir a vida. Tenho que anotar e aprender a fazer todas as receitas que a mãe fez a vida toda pra mim, pois chegou a minha vez de cozinhar pra família (já me viro bem nas panelas, mas não consegui chegar aos pés da minha mãe). Tenho que pescar com o pai e tomar banho de sol com ele na praia. Haja tempo de fazer tudo isso!

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Que cesariana?

     Terça vi num programa de TV os prós e contras (mais contras) sobre a cesariana, dessa história de marcar hora pra criança nascer e tal. A discussão girava em torno do alto índice de cesarianas feitas no Brasil, que já ultrapassa o de partos normais, segundo o Ministério da Saúde.

     Conheço um monte de mulheres que assim que recebem o teste contendo o "positivo" da gravidez, têm como primeiro pensamento: "Vou fazer cesariana." Não julgo. Cada uma com suas convicções e preferências. Mas é sabido que o ideal é a mulher entrar em trabalho de parto pra depois, se for o caso, ser submetida a uma cesariana. Mas enfim, o motivo que me faz escrever sobre cesariana é outro.

     Ontem, conversando sobre esse mesmo assunto com a dinda de um bebê lindo aqui de Santa Rosa, fiquei sabendo de uma coisa que  me deixou não só com a pulga, mas com um pulguedo atrás da orelha.

     A mãe desse bebê o teve de parto normal, aqui em Santa Rosa, há uns 6, 7 meses atrás, não sei bem. Pois conta ela que semana passada recebeu do governo federal (Ministério da Saúde) uma carta mostrando os gastos com a sua cesariana.

     Certamente quem está lendo esse post deve estar pensando a mesma coisa que a mãe, a dinda e eu pensamos: "Que cesariana???".


     Todos sabem que o valor de uma cesariana é maior em comparação a um parto normal. Então o Ministério da Saúde mandou dinheiro pro município, médico, hospital... sei lá eu pra quem ou que instituição, para cobrir os gastos de uma cesariana que não foi feita.

     O pulguedo se dá pelas simples dúvidas:
- Quantas e quantas vezes cesarianas foram pagas sem serem feitas de fato, só aqui em Santa Rosa?
- Com quem fica esse dinheiro?
- Será mesmo que o número de cesarianas é maior que o de partos normais ou isso é um dado errôneo devido ás falcatruas como a acima citada?

     Faço um apelo pras futuras mamães que terão seus bebês pelo SUS: se liguem nas falcatruas, fiscalizem e caso recebam uma carta dessas não tendo feito cesariana, denunciem. 

     Se fizermos a nossa parte, na cidade em que vivemos, quem sabe um dia esse país se livre de tanta corrupção e falcatruas. Não custa tentar. 

terça-feira, 13 de agosto de 2013

A Laura dos amendoins



     Demorei pra escrever sobre o assunto que abaixo se desenrolará porque preferi deixar a poeira e as emoções baixarem. Vou resumir o máximo que der, pois a história é longa e quero tornar a leitura agradável.

     Dia 3 de agosto, sábado emburrado no Estado. Estávamos em Tuparendi e eu dei amendoim pra Laura, pouco antes do almoço. Ela estava brincando com a Martina, correndo e comendo. O resultado foi que ela sufocou. A cena foi horrível. Vê-la sem poder respirar, forçando o vômito e a tosse a fim de poder conseguir ar... Quando conseguia um pouco de ar chorava, pedindo ajuda. Fiz o que pude, então gritei e o Bruno e mais alguémm veio ao meu socorro. O Matheus, namorado da Giulia, nos levou ao hospital. No caminho ela continuou sufocando e nós fazíamos de tudo para ajudá-la. chegando lá, achei por bem deixar o médico agir, já que eu estava transtornada, chorando, desesperada e sabia que pouco poderia ajudar. Liguei pra Dra. Maria Antonia e não consegui falar direito, tamanho o meu desespero. Só me lembro de ela ter dito que se algo estivesse ido pros pulmões da Laura, havia um procedimento que poderia removê-lo. Logo ela estava pedindo pela dupla infalível: bico e nana. O médico achou por bem levá-la ao hospital em Santa Rosa. A dra. Maria Antönia foi até o hospital ver a Laura. Falar com ela me tranquilizou bastante. 

     Lá chegando, foi tirado um Raio X dos pulmões onde nada apareceu e ela foi examinada pelo Dr. Altino, o pediatra de plantão. Ele chamou o Dr. Alexandre Magalhães, pneumologista. Ambos nos disseram o seguinte: certamente algo estava no pulmão direito da Laura, pois ele estava sibilando, e ela estava com uma tosse que antes do incidente ela não apresentava. O procedimento que deveria ser feito era como uma endoscopia, com a diferença que i instrumento entre nos pulmões. Chama-se fibrobroncoscopia, e só é realizado em Porto Alegre. Então tínhamos que ir até Porto Alegre o quanto antes. Detalhe: de ambulância. 

     Minhas pernas falsearam. Porque de ambulância? Ela corre algum risco? Os médicos explicaram que por mais que ela estivesse estável, o acompanhamento de um médico e de um técnico de enfermagem se fazia indispensável, caso ocorresse alguma intercorrência. 

     Passaram-se 4 horas e meia até que se conseguisse uma ambulância (obrigada á Fundação de Saúde de Santa Rosa) um leito no Hospital da Criança Santo Antônio, na Santa Casa (muitíssimo obrigada ao Dr. Tiago Bortolini, o nosso Tiago velho de guerra, por ter conseguido a vaga pra Laurinha) e o contato com a equipe médica que realizaria o procedimento (mais um obrigada ao Dr. Tiago). Durante essas 4 horas, a Laura tomou leite, brincou e correu pelo hospital. Sempre com o peito chiando e com aquela tosse, mas bem. Como ela tinha uma certa dificuldade em respirar, cansava rápido e dormia no nosso colo.

     Chegamos em Porto Alegre á 1:30 de domingo e fomos direto ao Hospital Santo Antônio. A Laura foi examinada rapidamente pela pediatra de plantão, que pediu outro Raio X dos pulmões. Enquanto aguardávamos para fazer a radiografia, chegou um pai com sua filha de 14 anos, bêbada, inconsciente, de shorts, bota de cano curto e uma blusa de mangas compridas. As médicas foram correndo atendê-la. O pai não soube dizer o que ela tinha bebido e se havia consumido algum tipo de droga. "Que merda..", pensei, e me lembrei que a Luiza tá com 13 anos. Aí o pai disse que ela estava de meia calça e absorvente e não estava mais e que não sabia qual a conduta do hospital diante de um quadro assim, mas que eles fizessem o possível pra descobrir o que mais havia acontecido com a filha dele. Só olhei pro Bruno e pensei de novo: "Que merda...". Abracei a Laura e fiquei feliz em saber o que estava acontecendo com ela. Era só um amendoim.

     Não há quarto privativo no Santo Antônio, e sim duplos. Então entramos no quarto já ocupado e fomos dormir. No domingo pela manhã, conhecemos a Nadine, uma menina da idade da Laura que nasceu com hidrocefalia e problemas no fígado. A pequena já passou por várias cirurgias, e só na Santa Casa está internada desde 20 de junho. Passamos o domingo brincando com a Laura. Ela se divertiu bastante, corria pelos corredores e adorou a sala de brinquedo do sétimo andar (o nosso andar).  Falamos com o Dr. Armando, pediatra, que nos disse que como a Laura estava bem, estável, com boa saturação, a fibro seria feita na segunda feira. Durante todo o tempo falávamos com a Laura, pneumopediatra prima da D. Lurdinha, que nos deu alta mão e nos esclareceu muita coisa.


A vista da sala de brinquedos do sétimo andar.

Cozinhando
Ganhamos esse cartão assim que entramos no quarto do hospital.

Fazendo suco pra mamãe.
     Dormi sozinha com ela de domingo pra segunda feira, dia em que seria realizada a fibro. Na segunda feira, as 10 da manhã, a Laura entrou em NPO (jejum). A pior parte de tudo. Isso me devastou. Vê-la me pedir mamá, água, suco e não poder dar... acabou comigo. O Bruno ficou com ela e eu fui pra rua pra comer longe dela e chorar. Sem sombra de dúvidas a pior parte foi o jejum. Na hora da fibro, o Bruno entrou junto pra anestesiarem a pequena, pois eu não tive coragem. a Léia, mãe da Nadine me disse que é difícil essa parte, e isso que ela já passou por isso várias vezes. Fiquei com o coração na mão na sala de espera, chorava, rezava... mas sentia que tudo acabaria bem. Isso eram 15:00.

     Me distraí com uma guria de uns 9 anos que iria retirar um duplo Jota não sei das quantas dos rins. Ela estava com fome e xaropiava a mãe dela pra comer um X tudo. Mal conversei com o Bruno e me lembrei que precisava fazer xixi. Na saída do banheiro, a enfermeira me chamou e eu fui pra sala de recuperação, devidamente vestida. A Laura estava anestesiada, toda molenga. A médica me disse que retiraram tudo o que tinha no pulmão direito e que o esquerdo estava limpo. Ao todo sete pedaços de amendoim. 
Os pedaços de amendoim que estavam no pulmão direito da Laura.
     Disse que eu poderia chamar por ela, dizer que a mamãe estava ali e tal. Logo ela acordou, com uma tosse seca e rouca. Tudo dentro do esperado segundo a médica, pois ela foi entubava pra fazer a fibro. Dei água, mamá, gelatina... ela tomou tudo e comeu metadoedo potinho da gelatina. Fiz nebulização várias vezes durante o tempo que fiquei com ela lá. Ela dormia e acordava. Tossia, chorava um pouco e dormia novamente. Fez um pouco de febre e foi tirada uma nova radiografia dos pulmões. Brincou com as bonecas que a enfermeira trouxe e as 21:00 voltamos pro quarto. Nos trocaram de quarto e dividimos ele com o Augusto de 1 ano e 11 meses, que estava fazendo exames pra constatar alguma alteração na medula, pois ele perdia o equilíbrio do nada.
O Bruno foi pra São Paulo de madrugada buscar a Luiza, pois como correu tudo bem, terça feira provavelmente teríamos alta. 

     Provavelmente não significa certamente. Acordamos animadas e fomos brincar. A Laura se encantou por um técnico de enfermagem que estava fazendo estágio lá, o Sandro. Também se apaixonou pelo fisioterapeuta, o Daniel. Brincou com a Manuela, pequena que estava se recuperando de uma infecção que jã tinha sido tratada com mais de um antibiótico. Quando a médica que fez a fibro veio vë-la, disse que precisávamos repetir a radiografia dos pulmões pra ter certeza que tudo estava bem. Do nada, logo depois do almoço, a enfermeira me disse que a partir daquela hora a Laura entraria em NPO porque ela teria que repetir a fibro. Minhas pernas falsearam. Repetir??  Porque??? Dei uma mamadeira de leite frio que tinha no quarto, pois ela estava chorando de fome e consegui falar com a médica. Resumindo: o pulmão direito estava com uma parte murcha (atelectasia), e provavelmente havia uma secreção ou um farelinho de amendoim trancando a entrada de ar. O pulmão poderia "desentupir" com fisioterapia, mas não era garantido, por isso o certo seria repetir a fibro. 
Passeio pelo corredor com a Manuela.

     Murchei. Tudo de novo?? E eu sozinha com a Laura! Pedi pra tia Ete ir até o hospital me dar uma mão na hora do jejum. Enquanto ela ficava com a Laura, fui até o banco pegar grana pra pagar a outra anestesia e comprar algo pra comer depois que voltasse da sala de recuperação. 

     Dessa vez foi tudo mais rápido. Vi ela sendo anestesiada e achei o jejum muito pior. De fato, só havia secreção trancando a entrada de ar, tanto que ela não precisou fazer nebulização e tossiu bem menos na segunda vez. A radiografia foi feita novamente. Comeu tri bem, brincou mais ainda e logo estávamos no quarto. Antes de dormir, o enfermeiro tirou o acesso do soro, ela tomou uma mamadeira cheia de leite e se atracou a comer a cuca que a tia Ete deixou pra ela. 

     Na quarta feira acordamos e a Laura foi brincar com o Sandro na sala de brinquedos, enquanto eu comia alguma coisa e tomava um banho. Ao meio dia, depois de comer uma pratada de comida, o Dr. Armando veio nos dar alta e ganhou um abraço apertado da Laura. A Dra. Marina (que fez a fibro) nos encontrou passeando pelo corredor. Nos deu a boa notícia que o pulmão estava totalmente desobstruído e que poderíamos ir pra casa. Chamei a tia Ete pra me ajudar a carregar as malas até o taxi e fomos em direção á casa da Camila e do Dani.

     O comportamento da Laura foi exemplar. Ela logo se acostumou com a rotina do hospital, choramingava um pouco quando colocavam o aparelhinho pra medir a saturação, mas entregava o dedinho, resignada. Não mexia muito a mãozinha que tinha o acesso do soro e fez amizade com todos no hospital. O croc verde e a calça jeans que ela usava fez sucesso. Ficou conhecida como a Laurinha dos amendoins.O "Sexy Ladie" ficou liberado pelo período que ela ficou internada, assim como as várias horas na frente da televisão e do computador, pois eram as maneiras que tínhamos de distraí-la. 


Brincadeiras com o Augusto, o colega de quarto, pouco antes de irmos embora.

     Foi um baita susto. E o que eu tirei de lição de tudo isso? 

     Primeiro que criança tem o poder de se recuperar muito rápido de um procedimento cirúrgico. Vi várias que fizeram cirurgia de fimose, hernia e outras encrencas se levantarem, colocarem sua roupinha e rumarem pra casa, com as mães e suas olheiras marcadas, porém com um semblante de alívio.
Segundo que mãe é mãe, que diga a Léia, mãe da Nadine, mas que tem uns pais que merecem o nosso total carinho e respeito. O pai da Laura e da Luiza foi de um companheirismo e de um amor de tirar o chapéu. Obrigada pelo apoio. Te amo, marido!
E terceiro e mais importante:  Que a gente arranja problemas na vida, faz drama por pouca coisa. Acho que de todas as crianças que estavam no hospital, a mais saudável ela a nossa filha.  Sejamos felizes, pois temos saúde. Oro pra que todas aquelas crianças que eu conheci melhorem logo.

     A Laura está 100% recuperada. Eu ainda estou meio baquiada. Cansada, bem cansada, com sono atrasado e alguns quilos mais magra (tudo tem seu lado bom!!). Ando bem emotiva, choro por qualquer coisa. Mas acho que logo eu também volto ao normal. 



PS: ALIMENTOS QUE CRIANÇAS MENORES DE 5 ANOS DEVEM EVITAR
-PIPOCA
-AMENDOIM
-PISTACHE
-TOMATE CEREJA
-SALSICHA CORTADA EM RODELAS
-AMËNDOAS
-CASTANHAS
-MM'S, CONFETES E ASSEMELHADOS

Quarta, depois que deixamos o hospital, fomos passear e fazer compras. A Laura ajudou a carregar as sacolas.

Rotina normal de criança, sem amendoins agora.


sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O nariz vermelho

     No início de junho, aconteceu um acidente doméstico em casa. A Bella atropelou a Laura, que caiu de cara no tapete de sisal da sala. Resultado: nariz ralado, bem ralado. A ponta do nariz afundou, de tão feio que foi.
     Mas a Laura tirou de letra. Nunca reclamou do dodói (a não ser na hora do tombo) e só choramingava um pouco na hora de colocar a pomada. O acidente aconteceu numa terça feira. No sábado, a casca do nariz caiu, deixando a ponta e a "aba"esquerda vermelhos.

     Até hoje o nariz permanece vermelhinho e volta e meia o pessoal pergunta se o narizinho tá vermelho do frio. Ela responde com o dedinho indicador na ponta do nariz:

- Dodói, Bella caiu.

O nariz na semana que perdeu a ponta no tapete.

Depois de quase 2 meses, os resquícios do acidente causado pela Bella ainda são visíveis.


Frases

     A Laura encontra-se na fase de formar frases. E está achando o máximo se expressar como "gente grande". Alguns exemplos:

     Ao acordar de manhã, ela grita do berço:
-Manhê! Fasse mamá!
Fasse = faz
Quando chegamos no quarto dela, sempre somos recebidos com um "Budia!"
Budia = bom dia 

- Vamos comer arroz e feijão, Laura?
- Não. Agoia mamá.
Sempre há negociação e o arroz e feijão são consumidos com bastante entusiasmo. Mas assim que deita na cama pra dormir, solta um "Agoia mamá." novamente.

- Quer um suco, filha?
- A Lala nqué.
O "nqué" em bebenês significa "não quer".

- Mãe, Lala qué vilo Mocala.
Essa complicou pra entender, né? Vamos á tradução sumultânea: A Laura quer ler o livro da Mônica. Até eu descobrir o que queria dizer Mocala... quase quebrei a cabeça.

- Bella, vem cá! Pega buinha!
Buinha = bolinha


     O mais legal é ver ela brincando com a mesa sonora que ganhou de aniversário. Já canta as músicas e repete os números e as formas (ouvir ela dizendo "triângulo"e "círculo" é impagável, até o tom da voz ela imita).