quinta-feira, 15 de março de 2018

Termos

     O nosso vocabulário é vasto, e existem palavras que incorporamos á ele por influência de outras pessoas. Com as crianças, ocorre o mesmo processo. Eles escutam o que as pessoas que elas mais convivem falam e saem repetindo.
Essa semana,  Laura demonstrou isso muito bem. Me divirto ouvindo ela repetir as palavras e expressões que a gente fala, e me lembro das pessoas que nos "ensinaram" a dizê-las.

     Vamos ás histórias:

     Essa primeira história retrata como as crianças repetem as coisas que escutam, mesmo sem ter a mínima ideia do que se tratam tais coisas.

BARCELONA E CHELSEA

     Na terça feira á noite, a Família TurraSala voltou pra casa (agradecimentos mais do que especiais á Vó Lulu pela hospitalidade, solicitude e amor que nos recebeu). Depois de organizar tudo, eu e a crespa fomos jogar Uno e o Bruno foi numa janta. 

     Estávamos nós duas na sala, no meio do jogo quando ela me saiu com essa:

- Mãe, sabia que amanhã tem Barcelona e Chelsea?
Estranhei o interesse repentino dela por futebol e sorri.

-É? E quem te disse que vai ter Barcelona e Chelsea?
- O Vitor Zilio, meu colega.
- E tu sabes o que é Barcelona e Chelsea?

Aí ela parou de jogar, olhou pra cima em sinal de dúvida e respondeu:

- Não.

     Dei uma risada controlada, pra não deixá-la constrangida, e expliquei o que era Barcelona e Chelsea.

BUFA

     Ainda na terça á noite, depois do jogo do Uno e várias partidas de varetas, a Laura me convidou pra fazermos yoga. Prontamente estendi o mat (tapetinho de yoga) no chão e nós começamos a fazer os ásanas (posições) que ela já domina. Fui ensinar um ásana novo (urdha upavistha konasana),
que consiste em permanecer sentada no chão, manter os joelhos estendidos, retos, pegar os pés com as mãos e olhar pra cima, equilibrando-se somente nos ísquios. aí, com um impulso, o corpo vai pra trás, as costas ficam apoiadas no mat e os pés tocam o chão, por trás da cabeça, com os joelhos estendidos. 

     Mostrei a ela como se faz e, depois de algumas tentativas frustradas onde ela caía para os lados, deu certo. Assim que conseguiu, fiz uma festa:
- Isso, filha! Muito bom!

     Ela começou  rir antes mesmo de se deitar no chão normalmente. Perguntei o motivo do riso:
- É que eu soltei uma bufa quando meus pés foram lá pra trás. 

     Foi a minha vez de começar a rir. Aí ela completou:
- Mas foi uma bufinha, só. Nem fedeu! Hahahaha!!!!

     Bufa é como nosso compadre, o Bahiano, se refere aos peidos mudos que as pessoas soltam. Incorporamos o termo há anos.



ACALMANDO O CORAÇÃO

     Encontramos a Tere (que limpa o prédio) na quarta pela manhã, e ela disse, nos recepcionando:

- Que bom que vocês estão de volta!!
A Laura, abrindo um sorriso muito confiante, disse:

- Eu falei pra ti acalmar o coração que eu ia voltar logo, né Tere?
- Ah, sim! Eu fiz isso! E o tempo passou rápido! Agora vocês estão em casa de novo. 

     Depois perguntei pra Laura que papo foi aquele com a Tere e ela me contou:

- É que esses dias eu vim aqui com o pai e a vó Lulu buscar umas coisas, e a Tere perguntou quando a gente iria voltar pra casa, porque ela tava com saudades da gente. Aí eu disse pra ela: "Acalma o coração, Tere; acalma o coração... daqui uns dias meu pai melhora do joelho e eu volto." E foi isso!

     Quem usa sempre esse termo é a minha irmã, Camila. Eu, consequentemente, também comecei a usá-lo, e a Laura, por sua vez, o incorporou no vocabulário.    


MAGUARY

     Não me lembro mais de quem eu ouvi esse termo, mas foi na época da faculdade. Quando uma pessoa está maguary, quer dizer que ela está magoada, chateada. 

     Na semana passada, estávamos na sala, na casa da minha sogra, quando a Laura quis brincar com a Bella, que por sua vez, só deu uma olhada mediante o chamado d crespa, e continuou a soneca no canto do sofá, onde estava.  A crespa encontrou uma explicação diante da negativa da Bella:

- Acho que ela tá maguary por ficar tanto tempo longe da caminha dela...

quinta-feira, 8 de março de 2018

"Não deve ser fácil essa vida..."

     Situação até ontem da família TurraSala:
- Bruno com o joelho esquerdo operado desde o dia 19, sem trabalhar (por motivos óbvios).
- Os 4 (eu, Bruno, Laura e Bella) hospedados na casa da minha sogra por conta do elevador, já que o operado não pode subir escadas), com somente algumas poucas roupas e pertences. Quando precisamos de algo, vou até o nosso apartamento pra buscar (e cuidar da horta).
- Secretária da clínica de férias. Então, estava rolando um revezamento 3x3 (eu, Miriam e Bruna) no atendimento ao telefone, administração das agendas e ouras tarefas.

     A retirada dos pontos e consulta de revisão da cirurgia do Bruno foi ontem. Minha sogra foi acompanhá-lo, já que eu e a Laura tínhamos nossos afazeres aqui. Coordenei a crespa de manhã, ajeitei seu lanche, fiz almoço, lavei a louça e antes de deixá-la na escol, passei rapidamente na clínica pra conferir o horário do primeiro paciente da tarde. Constatando que ás 13:00 ele estaria ali me esperando, e que tinha 10 minutos pra deixá-la na escola e voltar pra clínica, entrei no carro e disse pra Laura:

- Filha, hoje a mãe vai te deixar mais cedo na escola, porque tenho paciente daqui há pouco.
- Tá bom.

     No caminho pra escola, ela divagou, suspirando:

- Não deve ser fácil essa vida... né?
- Como assim, Laura?
- Ter filha, marido de muleta, ter que atender paciente cedo, cuidar da clínica, dirigir...

     Não aguentei e dei uma gargalhada. Depois que me recompus, respondi
- A gente dá conta de tudo quando a filha e o marido ajudam; quando eu peço as coisas e tu vais logo fazer (escovar os dentes, pegar a tua mochila, colocar o tênis...).
- Entendi, mãe. Conta comigo que vou fazer tudo pra te ajudar.