quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O lado direito

     O sofá da nossa sala está disposto no cômodo de tal forma que o lado direito é o mais usado. Sempre que se chega na sala, aquele lado do sofá é ocupado primeiro por mim, pelo Bruno e pela Bella. A Laura tem uma tendência forte em preferir o mesmo lugar, mas como ainda não pára quieta por muito tempo, se contenta em sentar-se em qualquer lugar, por breves instantes.  Do lado esquerdo do sofá, temos um bambu mosso e algumas tomadas. No  lado direito, está a mesinha de apoio da sala, onde estão estrategicamente posicionados o abajur, as tomadas reservas e os controles remotos da televisão, home theater, DVD e por aí vai.

     Sempre que o Bruno está bem acomodado no canto do sofá e eu chego na sala, dou uma cutucada na perna dele pra que ele ceda o lugar. E ele cede. Se bandeia pro lado esquerdo e eu reino soberana no canto preferido de todos. Isso se repete desde que nos casamos, em todas as estações, quase todos os dias.

     Quando eu chego primeiro - obviamente me adonando do lado direito - e ele vem depois pra se juntar a mim no sofá, sempre faz a volta na mesinha de centro e se acomoda no lado esquerdo. Não me lembro dele me pedir pra que eu  fosse pro outro lado.

     Há uns dois meses atrás, de noite, depois que a Laura dormiu, fui me sentar com ele no dito sofá (um dos poucos momentos que ficamos a sós). Precisava carregar o meu celular, e como sempre, queria sentar no lado direito do sofá, que por sua vez já estava ocupado pelo meu excelentíssimo esposo.

     Não sei porque, mas sabia que, aquele dia, pela primeira vez, ele iria reclamar quando eu pedisse que me deixasse sentar no lado direito. Por isso, resolvi mudar de tática, e ao invés de dar a cutucada na perna como de costume, fui me aproximando e dando beijinhos no rosto dele, aí pedi, educadamente e com voz melosa:
-Dá licença, amor?

     A resposta veio com a a reclamatória que eu temia, e com o aumento do tom de voz:

-Ah, não. Sempre eu tenho que dar o lugar do sofá pra ti. Sempre!!! Vai sentar do outro lado! Esse lugar é meu! É meu!

     Comecei a rir (por dentro, claro) e fiz a menção em dizer que queria sentar ali pra colocar o celular pra carregar na tomada do abajur. Nem cheguei a terminar a frase:
- Mas meu celular...
- Nem vem, nem vem! Tem tomada lá do outro lado também! Vai te sentar lá!

     Obedientemente, fiz a volta na mesinha de centro da sala, conectei o carregador na tomada que existe atrás do bambu mosso e me sentei no lado esquerdo do sofá, contendo o riso.

     O Bruno me olhou e repetiu, mais relaxado, já achando graça da situa;cão, porém enfático:
- Esse lugar é meu. Meu, entendeu?
- Entendi, desculpe.

Passaram-se alguns instantes, e a Bella pulou no sofá, justamente no lado direito, quase em cima do Bruno.
Não aguentei e comecei a gargalhar da cena e da reação do Bruno, incrédulo.
- Até a cadela quer esse lugar no sofá! Não acredito! Te manda, Bella!

     Ela veio na minha direção, me olhou como quem diz: "Mas eu também gosto daquele lado do sofá.", se deitou no espaço do meio do sofá e dormiu, instantaneamente (como de costume).

     Nunca mais pedi o lugar direito do sofá pro Bruno depois desse dia. A Bella aprendeu a se acomodar no tapete ou na poltrona mais próxima.

     Quero muito que o Bruno leia esse post, pra ele saber que aquele é o lugar preferido do sofá de todos os moradores do nosso lar doce lar, tanto bípedes quanto quadrúpedes. E que jamais foi nossa intenção (minha e da Bella, no episódio em questão) tirá-lo dele de propósito.




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