terça-feira, 13 de agosto de 2013

A Laura dos amendoins



     Demorei pra escrever sobre o assunto que abaixo se desenrolará porque preferi deixar a poeira e as emoções baixarem. Vou resumir o máximo que der, pois a história é longa e quero tornar a leitura agradável.

     Dia 3 de agosto, sábado emburrado no Estado. Estávamos em Tuparendi e eu dei amendoim pra Laura, pouco antes do almoço. Ela estava brincando com a Martina, correndo e comendo. O resultado foi que ela sufocou. A cena foi horrível. Vê-la sem poder respirar, forçando o vômito e a tosse a fim de poder conseguir ar... Quando conseguia um pouco de ar chorava, pedindo ajuda. Fiz o que pude, então gritei e o Bruno e mais alguémm veio ao meu socorro. O Matheus, namorado da Giulia, nos levou ao hospital. No caminho ela continuou sufocando e nós fazíamos de tudo para ajudá-la. chegando lá, achei por bem deixar o médico agir, já que eu estava transtornada, chorando, desesperada e sabia que pouco poderia ajudar. Liguei pra Dra. Maria Antonia e não consegui falar direito, tamanho o meu desespero. Só me lembro de ela ter dito que se algo estivesse ido pros pulmões da Laura, havia um procedimento que poderia removê-lo. Logo ela estava pedindo pela dupla infalível: bico e nana. O médico achou por bem levá-la ao hospital em Santa Rosa. A dra. Maria Antönia foi até o hospital ver a Laura. Falar com ela me tranquilizou bastante. 

     Lá chegando, foi tirado um Raio X dos pulmões onde nada apareceu e ela foi examinada pelo Dr. Altino, o pediatra de plantão. Ele chamou o Dr. Alexandre Magalhães, pneumologista. Ambos nos disseram o seguinte: certamente algo estava no pulmão direito da Laura, pois ele estava sibilando, e ela estava com uma tosse que antes do incidente ela não apresentava. O procedimento que deveria ser feito era como uma endoscopia, com a diferença que i instrumento entre nos pulmões. Chama-se fibrobroncoscopia, e só é realizado em Porto Alegre. Então tínhamos que ir até Porto Alegre o quanto antes. Detalhe: de ambulância. 

     Minhas pernas falsearam. Porque de ambulância? Ela corre algum risco? Os médicos explicaram que por mais que ela estivesse estável, o acompanhamento de um médico e de um técnico de enfermagem se fazia indispensável, caso ocorresse alguma intercorrência. 

     Passaram-se 4 horas e meia até que se conseguisse uma ambulância (obrigada á Fundação de Saúde de Santa Rosa) um leito no Hospital da Criança Santo Antônio, na Santa Casa (muitíssimo obrigada ao Dr. Tiago Bortolini, o nosso Tiago velho de guerra, por ter conseguido a vaga pra Laurinha) e o contato com a equipe médica que realizaria o procedimento (mais um obrigada ao Dr. Tiago). Durante essas 4 horas, a Laura tomou leite, brincou e correu pelo hospital. Sempre com o peito chiando e com aquela tosse, mas bem. Como ela tinha uma certa dificuldade em respirar, cansava rápido e dormia no nosso colo.

     Chegamos em Porto Alegre á 1:30 de domingo e fomos direto ao Hospital Santo Antônio. A Laura foi examinada rapidamente pela pediatra de plantão, que pediu outro Raio X dos pulmões. Enquanto aguardávamos para fazer a radiografia, chegou um pai com sua filha de 14 anos, bêbada, inconsciente, de shorts, bota de cano curto e uma blusa de mangas compridas. As médicas foram correndo atendê-la. O pai não soube dizer o que ela tinha bebido e se havia consumido algum tipo de droga. "Que merda..", pensei, e me lembrei que a Luiza tá com 13 anos. Aí o pai disse que ela estava de meia calça e absorvente e não estava mais e que não sabia qual a conduta do hospital diante de um quadro assim, mas que eles fizessem o possível pra descobrir o que mais havia acontecido com a filha dele. Só olhei pro Bruno e pensei de novo: "Que merda...". Abracei a Laura e fiquei feliz em saber o que estava acontecendo com ela. Era só um amendoim.

     Não há quarto privativo no Santo Antônio, e sim duplos. Então entramos no quarto já ocupado e fomos dormir. No domingo pela manhã, conhecemos a Nadine, uma menina da idade da Laura que nasceu com hidrocefalia e problemas no fígado. A pequena já passou por várias cirurgias, e só na Santa Casa está internada desde 20 de junho. Passamos o domingo brincando com a Laura. Ela se divertiu bastante, corria pelos corredores e adorou a sala de brinquedo do sétimo andar (o nosso andar).  Falamos com o Dr. Armando, pediatra, que nos disse que como a Laura estava bem, estável, com boa saturação, a fibro seria feita na segunda feira. Durante todo o tempo falávamos com a Laura, pneumopediatra prima da D. Lurdinha, que nos deu alta mão e nos esclareceu muita coisa.


A vista da sala de brinquedos do sétimo andar.

Cozinhando
Ganhamos esse cartão assim que entramos no quarto do hospital.

Fazendo suco pra mamãe.
     Dormi sozinha com ela de domingo pra segunda feira, dia em que seria realizada a fibro. Na segunda feira, as 10 da manhã, a Laura entrou em NPO (jejum). A pior parte de tudo. Isso me devastou. Vê-la me pedir mamá, água, suco e não poder dar... acabou comigo. O Bruno ficou com ela e eu fui pra rua pra comer longe dela e chorar. Sem sombra de dúvidas a pior parte foi o jejum. Na hora da fibro, o Bruno entrou junto pra anestesiarem a pequena, pois eu não tive coragem. a Léia, mãe da Nadine me disse que é difícil essa parte, e isso que ela já passou por isso várias vezes. Fiquei com o coração na mão na sala de espera, chorava, rezava... mas sentia que tudo acabaria bem. Isso eram 15:00.

     Me distraí com uma guria de uns 9 anos que iria retirar um duplo Jota não sei das quantas dos rins. Ela estava com fome e xaropiava a mãe dela pra comer um X tudo. Mal conversei com o Bruno e me lembrei que precisava fazer xixi. Na saída do banheiro, a enfermeira me chamou e eu fui pra sala de recuperação, devidamente vestida. A Laura estava anestesiada, toda molenga. A médica me disse que retiraram tudo o que tinha no pulmão direito e que o esquerdo estava limpo. Ao todo sete pedaços de amendoim. 
Os pedaços de amendoim que estavam no pulmão direito da Laura.
     Disse que eu poderia chamar por ela, dizer que a mamãe estava ali e tal. Logo ela acordou, com uma tosse seca e rouca. Tudo dentro do esperado segundo a médica, pois ela foi entubava pra fazer a fibro. Dei água, mamá, gelatina... ela tomou tudo e comeu metadoedo potinho da gelatina. Fiz nebulização várias vezes durante o tempo que fiquei com ela lá. Ela dormia e acordava. Tossia, chorava um pouco e dormia novamente. Fez um pouco de febre e foi tirada uma nova radiografia dos pulmões. Brincou com as bonecas que a enfermeira trouxe e as 21:00 voltamos pro quarto. Nos trocaram de quarto e dividimos ele com o Augusto de 1 ano e 11 meses, que estava fazendo exames pra constatar alguma alteração na medula, pois ele perdia o equilíbrio do nada.
O Bruno foi pra São Paulo de madrugada buscar a Luiza, pois como correu tudo bem, terça feira provavelmente teríamos alta. 

     Provavelmente não significa certamente. Acordamos animadas e fomos brincar. A Laura se encantou por um técnico de enfermagem que estava fazendo estágio lá, o Sandro. Também se apaixonou pelo fisioterapeuta, o Daniel. Brincou com a Manuela, pequena que estava se recuperando de uma infecção que jã tinha sido tratada com mais de um antibiótico. Quando a médica que fez a fibro veio vë-la, disse que precisávamos repetir a radiografia dos pulmões pra ter certeza que tudo estava bem. Do nada, logo depois do almoço, a enfermeira me disse que a partir daquela hora a Laura entraria em NPO porque ela teria que repetir a fibro. Minhas pernas falsearam. Repetir??  Porque??? Dei uma mamadeira de leite frio que tinha no quarto, pois ela estava chorando de fome e consegui falar com a médica. Resumindo: o pulmão direito estava com uma parte murcha (atelectasia), e provavelmente havia uma secreção ou um farelinho de amendoim trancando a entrada de ar. O pulmão poderia "desentupir" com fisioterapia, mas não era garantido, por isso o certo seria repetir a fibro. 
Passeio pelo corredor com a Manuela.

     Murchei. Tudo de novo?? E eu sozinha com a Laura! Pedi pra tia Ete ir até o hospital me dar uma mão na hora do jejum. Enquanto ela ficava com a Laura, fui até o banco pegar grana pra pagar a outra anestesia e comprar algo pra comer depois que voltasse da sala de recuperação. 

     Dessa vez foi tudo mais rápido. Vi ela sendo anestesiada e achei o jejum muito pior. De fato, só havia secreção trancando a entrada de ar, tanto que ela não precisou fazer nebulização e tossiu bem menos na segunda vez. A radiografia foi feita novamente. Comeu tri bem, brincou mais ainda e logo estávamos no quarto. Antes de dormir, o enfermeiro tirou o acesso do soro, ela tomou uma mamadeira cheia de leite e se atracou a comer a cuca que a tia Ete deixou pra ela. 

     Na quarta feira acordamos e a Laura foi brincar com o Sandro na sala de brinquedos, enquanto eu comia alguma coisa e tomava um banho. Ao meio dia, depois de comer uma pratada de comida, o Dr. Armando veio nos dar alta e ganhou um abraço apertado da Laura. A Dra. Marina (que fez a fibro) nos encontrou passeando pelo corredor. Nos deu a boa notícia que o pulmão estava totalmente desobstruído e que poderíamos ir pra casa. Chamei a tia Ete pra me ajudar a carregar as malas até o taxi e fomos em direção á casa da Camila e do Dani.

     O comportamento da Laura foi exemplar. Ela logo se acostumou com a rotina do hospital, choramingava um pouco quando colocavam o aparelhinho pra medir a saturação, mas entregava o dedinho, resignada. Não mexia muito a mãozinha que tinha o acesso do soro e fez amizade com todos no hospital. O croc verde e a calça jeans que ela usava fez sucesso. Ficou conhecida como a Laurinha dos amendoins.O "Sexy Ladie" ficou liberado pelo período que ela ficou internada, assim como as várias horas na frente da televisão e do computador, pois eram as maneiras que tínhamos de distraí-la. 


Brincadeiras com o Augusto, o colega de quarto, pouco antes de irmos embora.

     Foi um baita susto. E o que eu tirei de lição de tudo isso? 

     Primeiro que criança tem o poder de se recuperar muito rápido de um procedimento cirúrgico. Vi várias que fizeram cirurgia de fimose, hernia e outras encrencas se levantarem, colocarem sua roupinha e rumarem pra casa, com as mães e suas olheiras marcadas, porém com um semblante de alívio.
Segundo que mãe é mãe, que diga a Léia, mãe da Nadine, mas que tem uns pais que merecem o nosso total carinho e respeito. O pai da Laura e da Luiza foi de um companheirismo e de um amor de tirar o chapéu. Obrigada pelo apoio. Te amo, marido!
E terceiro e mais importante:  Que a gente arranja problemas na vida, faz drama por pouca coisa. Acho que de todas as crianças que estavam no hospital, a mais saudável ela a nossa filha.  Sejamos felizes, pois temos saúde. Oro pra que todas aquelas crianças que eu conheci melhorem logo.

     A Laura está 100% recuperada. Eu ainda estou meio baquiada. Cansada, bem cansada, com sono atrasado e alguns quilos mais magra (tudo tem seu lado bom!!). Ando bem emotiva, choro por qualquer coisa. Mas acho que logo eu também volto ao normal. 



PS: ALIMENTOS QUE CRIANÇAS MENORES DE 5 ANOS DEVEM EVITAR
-PIPOCA
-AMENDOIM
-PISTACHE
-TOMATE CEREJA
-SALSICHA CORTADA EM RODELAS
-AMËNDOAS
-CASTANHAS
-MM'S, CONFETES E ASSEMELHADOS

Quarta, depois que deixamos o hospital, fomos passear e fazer compras. A Laura ajudou a carregar as sacolas.

Rotina normal de criança, sem amendoins agora.


2 comentários:

  1. Déia, chorei ao ler o post. Só sendo mãe pra sentir o que vc sente... se cuidem e apareçam!!! saudades, bjs.

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  2. Oi deia
    Qual foi o hospital e qual medico?
    Estou passando a mesma coisa
    48 96239395 fernando e michele

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