domingo, 7 de junho de 2015

Tchau ao vô Bruno

     Essa semana perdemos o meu sogro. Há anos que a sua saúde não estava bem, e nessa quarta feira ele descansou. A mãe estava com a Laura desde segunda feira, pois o Bruno estava envolvido com o pai no hospital e tinha que trabalhar, e eu estava em aula, na especialização em Porto Alegre.

     Vim o mais rápido que pude, e a Laura continuou com a mãe. Resolvemos, por unanimidade, não a levarmos ao velório nem à cerimônia de cremação. Mas e como contar pra crespa sobre a ausência do vô Bruno?

     Na quinta de tarde, fomos até a casa da minha sogra e, até passarmos pela porta, ela estava feliz da vida por reencontrar os primos. Assim que entramos, a cara dela fechou. Todos vieram cumprimentá-la, mas ela se agarrava na minha perna e escondia o rosto. Perguntou pela vó Lulu e foi em direção ao quarto, onde a vó descansava. A impressão que tivemos foi que ela estava sentindo que havia um clima diferente na casa, algo estranho. Após algum tempo, tudo virou festa.

     Já era noite quando a Márcia (minha cunhada) ligou pro hospital pra avisar que eles haviam esquecido algumas coisas no quarto. Ela foi pra um dos aposentos da casa, a fim de fugir do barulho e poder falar com a enfermeira. No diálogo com ela, a Márcia disse que o seu Bruno havia falecido na quarta feira e tal e coisa e coisa e tal. Quando ela olhou pra trás, viu a Laura na porta, que perguntou:
- Você disse que o vô Bruno faleceu?
A Márcia, sem saber se ela sabia o que era falecer, devolveu a pergunta:
- Eu disse??!
- Sim, ou ouvi você dizendo que o vô Bruno faleceu.
Nisso alguém anuncia que o cachorro quente estava pronto. Mais do que depressa, a Márcia pegou a crespa no colo e desconversou, correndo pra cozinha, fazendo festa. Logo ela nos avisou sobre o episódio, e achamos que a Laura perguntaria algo. Mas não. Ela vinha em nossa direção e esperava que nós contássemos o que estava se passando.

     Na sexta feira, ela brincou muito com os primos, principalmente com o Davi, filho da Mariana, a prima mais velha. Já era noite quando eles brincavam de esconde esconde, e o Davi é mestre na coisa. Chega a ficar 10 minutos escondidos, sem dar um pio, sem que ninguém o encontre. Até eu ajudei a Laura a procurar o Davi. O Bruno me pegou pela mão e disse que queria contar pra Laura. Fomos na direção dela, ele a pegou no colo e descemos pro pátio.
- Queremos conversar contigo, filha.
- Porque? Eu fiz feio?
Aí eu tive que rir, mas esclareci em seguida:
- Não, não! É só uma conversa!

Lá chegando, sentamos sob um céu estrelado, com um calor incomum pra junho e começamos "a conversa".
- Laura, tu lembras que o vô Bruno estava doente, no hospital?
- Sim.
- Pois é, filha, o Papai do céu levou o vô Bruno pra morar lá com ele.
- Mas ele não vai voltar aqui pra visitar a gente?
- Não, filha. Agora ele virou uma estrelinha.

     Olhando pro céu ela respondeu:
- Mas eu não vejo a cara dele!
- Mas agora ele é uma estrela! Então quando tu estiveres com saudades dele, é só procurar pela estrelinha que o vovô se tornou!
     Olhando novamente pro céu, à procura do avô, ela se entusiasma:
-Ali, ali tá o vô Bruno!! Oi, vô Bruno!! Deu, agora eu tenho que procurar o Davi.
     E saiu correndo pra dentro da casa. 
     Ainda deu tempo de falar:
- Pede pro vô Bruno te ajudar a encontrar o Davi!!!
     E ele ajudou. Acho que o Davi estava cansado de ficar encolhido embaixo da mesinha da sala e chamou pela Laurinha.
- Achei o Davi! O vô Bruno me ajudou a achar o Davi. Obrigada, vô!!

     Daquele dia em diante, ela passou a conversar com o vô Bruno diariamente. Dá oi pra estrelinha que ela elegeu como sendo ele, conta as novidades e o leva junto pra brincar.

     Bom seria se todos tivessem o entendimento que a nossa crespa teve em situações como essa.






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