segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O texto do Marcelo

     Sábado á tarde, o Bruno voltou de um Encontro de Motos em Salto do Jacuí e nos encontrou em Tuparendi, numa festa infantil. Chegou de macacão, capacete... e as crianças ficaram alucinadas com a imagem dele adentrando o salão. Na saída, eu e a Laura voltamos pra Santa Rosa de carro e ele, de moto.

     Saímos alguns instantes antes dele, e quando a Laura indagou onde estava o papai, respondi que ele passaria por nós de moto. Algum tempo depois, ele nos ultrapassou, mas deu uma reduzida ao lado do carro e a Laura, eufórica disse:
- Olha mãe!!!!!!! O papai de moto!!!! Oi paiê!!!!
     Abanou pro pai freneticamente, enquanto ele retribuía os acenos. Quando o Bruno acelerou e finalmente ganhou o asfalto na nossa frente, ela, de queixo caído, com a cara mais boba do mundo, murmurou, armando um sorriso e seguindo ele com os olhinhos brilhando:
- Que looouco... que louco ele é...
     Hoje pela manhã, o Bruno me mostrou um texto que o Marcelo Dahmer postou numa rede social. Pra quem não sabe, o Marcelo " é um gurizão ali de Três de Maio que tá correndo muito de moto..", segundo o motociclista aqui de casa. Me disse:
- Leia o texto pra entender o que eu sinto quando estou numa moto.
     Li e chorei de emoção; pois já havia entendido aquele brilhos nos olhos do Bruno quando ele foi pro Atacama. Compartilho com vocês o texto em questão.

     "Muitos acham que vestimos aquelas roupas e usamos capacetes coloridos apenas para chamar atenção. Mas uma vez que as viseiras são levantadas, o que se vê são olhos bonitos, limpos e cheios de lágrimas; olhos onde você poderia se perder neles, chegar em suas almas e ver o quão pura elas são. Tirando nossas roupas de couro e capacetes, você verá que somos como crianças grandes, nada mais que isso… Gostamos da vida, de carne, de cerveja e de tudo que é bom.... Mas também continuamos procurando pela mãe quando as coisas dão errado.
     Tem gente que diz que quando montamos em nossas motos, anjos e demônios vão conosco... Pode até ser verdade. É um tipo de dualismo que faz esse estilo de vida ser tão rico em emoções, que fazem seu coração bater mais rápido, parecendo que vai sair pelo peito a qualquer momento... Demônios fazem você acelerar, irracionais e violentas aceleradas, na hora que a adrenalina corre direto pelo corpo e você fica tremendo por vários minutos... Anjos carregam com eles a face e as vozes dos que não estão mais conosco; vozes da experiência, que por vezes foram forjadas por tombos, sustos e ossos quebrados, mas que nos fazem pensar o quanto pode ser dolorosa a brincadeira e a falta de atenção.
     Sim, é verdade que você pode morrer pilotando uma moto; isso pode acontecer com qualquer um de nós... E machuca, REALMENTE MACHUCA. Mas nada se compara à quantidade de lembranças fantásticas, em "flashes", que duram uma eternidade de risadas e que deixam a vida muito mais alegre... Risadas altas e profundas que vem do coração, tão altas que fazem o sol brilhar num dia nublado...
     Converse com qualquer um de nós. Peça para contarmos uma história de um dos nossos últimos passeios... Alguma curva da estrada, contar qual sua montanha preferida ou falar sobre alguma viagem... Você com certeza se perderá naqueles olhos sorridentes, naquele sorriso natural que, gradualmente, se espalha pelo rosto inteiro.
     Mas converse com qualquer um de nós e pergunte como a vida seria, se algum dia tivéssemos de desistir de nossa paixão... Tudo que você irá escutar é o som do silêncio. E verá que aquele rosto sorridente de "criança" ficará vazio...
     Sim, você pode morrer em uma moto, mas acredite, não há melhor jeito de se viver o pouco tempo que nos é dado! E se você não entendeu nada até agora, não se preocupe, você nunca entenderá! Isso é amar uma moto... Para quem o faz a explicação não é necessária, para quem não o faz, nenhuma explicação é possível...
     Quando um dia você estiver na estrada, com sua família na segurança de seu carro, e UM DE NÓS passar vagarosamente, e o seu filho, sentado no banco de trás, virar a cabeça e acenar empolgado, cumprimentando o motociclista... Não tente entendê-lo... Ele, com toda sua inocência, vê em nós uma centelha de algo que você nunca reparou! E pode ter certeza que o motociclista acenará também. Não há nada de errado nisso, pois você sabe que... ANJOS, NA TERRA, SE CUMPRIMENTAM!!"
 
 
      Li e chorei de emoção em perceber que tenho dois anjos em casa, me lembrando da cena de sábado á tarde. Estou chorando agora, escrevendo isso, por me sentir tão abençoada por tê-los perto de mim.
     Não sei se algum dia serei parceira pra viajar com o meu motociclista novamente (ainda tenho receios desde a minha primeira experiência na garupa), mas aprendi a respeitar a paixão dele e a admirar a euforia da Laura quando sente o pai ou "qualquer um deles" acelerar a moto. Que Deus, todos os Santos, Orixás, "anjos mors", guias espirituais e demais entidades do bem estejam sempre acompanhando essas duas criaturas maravilhosas e apaixonadas por motos que atendem pelo nome de Bruno e Laura.


 
     E filha, isso é pra tu leres quando fores mais velha: Se tu resolveres seguir os passos aventureiros do teu pai, que ao menos tu não sejas tão estabanada como eu, caso contrário tua coleção de cicatrizes ultrapassará a dele. 

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