segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Drama





     Ser mulher é sinônimo de fazer drama. Até mesmo as mais despachadas, vividas, amadurecidas tiveram seus momentos de total, completo e sempre exagerado drama. Como as crianças de hoje são mais desenvolvidas, rápidas e sagazes do que as de gerações passadas, não me admira que as meninas desenvolvam o drama na tenra idade. Exemplo:  a Laura.

Fatos que demonstram isso:

     Inverno. Quinta feira a noite. A Laura foi com o Bruno numa janta da Etnia Italiana, enquanto eu estava nos estudos do Centro Espírita. Esperava que eles voltassem pra casa muito depois de mim, mas uns 10 minutos depois que eu havia entrado em casa, os dois chegaram. Ele, sério; ela, emburrada, cruzou por mim sem ao menos me cumprimentar e foi direto pro quarto. Perguntei o que tinha acontecido e o Bruno me pegou pela mão e me levou até o quarto dela, onde a encontramos de cara fechada, braços cruzados, sentada na cama.
     
     Aí vieram as explicações:
- A Laura brincou até a hora da janta, bem querida e comportada. Mas não quis comer nada, mesmo sendo avisada que estava tudo uma delícia. Ficou fazendo beiço e manha pra vó Lulu, pedindo pra irmos embora; e eu não gostei do comportamento dela. Avisei que nós iríamos embora na hora que eu achasse, e não quando ela queria.
Perguntei:
- É verdade isso, Laura?
     Com cara de mais emburrada ainda ela confirmou. E o Bruno continuou:
- Quando realmente chegou a hora de irmos embora, falei pra ela no carro que o comportamento dela não foi nada legal e que ela vai ficar de castigo e sem jantar, pra aprender a comer o que tem e na hora certa.
     Respondi:
- Acho justo. 
     Decidimos dar somente uma banana pra ela comer. Depois, foi pro banheiro, escovou os dentes e voltou pro quarto. Enquanto isso, eu ajeitei a casa e o Bruno foi pro quarto. Quando estava terminando de recolher as coisas da sala, ela apareceu e disse:
- Quero falar uma coisa.
- Pode falar.
- Eu odeio a minha vida.

     A minha vontade era cair na gargalhada. Mas "engoli" essa vontade, disfarçando os cantos da minha boca, que teimavam em subir e respondi:
- No momento, minha filha, essa é a única vida que tu tens. Então, trata de gostar bastante dela. E se tá difícil, o melhor é tu mudares as tuas atitudes. Te garanto que aí tua vida vai ficar bem melhor.

     Sem mais, virei as costas e fui pro quarto. Na sequência, ela foi pro quarto dela, nos desejou boa noite e fechou a porta, "maguary", certamente odiando a vida ainda.

     Contei pro Bruno o nosso diálogo e rimos juntos, já que chorar seria mais dramático ainda.



     Ainda no inverno, passada a hora de dormir em uns 40 minutos. Já tinha avisado a Laura que era hora de ir pra cama várias vezes. Geralmente ela atende logo aos pedidos de baixar a bola e se deitar, mesmo comentando (todas as vezes) que ela "odeia a hora de dormir".  Passados mais uns 15 minutos, mesmo de dentes escovados e tudo pronto, constatei que com conversa a coisa não iria se resolver, então fiz um leve "esparro" em casa:
- Bueno! Acabou a folia! Teu pai já está deitado, a Bella também. Eu cansei de te mandar pra cama. 
Desliguei as luzes da sala, do corredor, me deitei e eu e o Bruno nos despedimos dela:
- Boa noite, filha!
Silêncio. Esperamos mais alguns instantes, até ouvirmos a resposta:
- Vocês são os piores pais do mundo.
Consegui encontrar os olhos do Bruno no escuro e sentir que ele teve a mesma reação que eu: reviramos os olhos como quem diz: "que dramaaaa!!!" e rimos (com a cabeça no travesseiro, pra que ela não nos escutasse). Depois de alguns minutos, ele me disse:

- Ela não tem 6 anos. Já imaginou com 16?
- Não quero pensar nisso. Ainda vamos escutar muitas vezes essa frase.
- Isso quer dizer que estamos no caminho certo.
- Acho que sim.


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